Solange tem um filho lindo de cinco aninhos. Daniel tem os olhos mais expressivos do mundo e um sorriso cativante. Daniel é autista e não fala. Nunca falou. Só emite alguns sons sem muito significado. O sonho de Solange é ouvir Daniel chamando “mamãe”.
Marta é mãe do Felipe, autista, de 10 anos. Felipe fala mais que um papagaio e mexe no tablet como ninguém: escolhe músicas no Youtube, brinca com os joguinhos. Mas Felipe, apesar dos milhares de métodos tentados, ainda não foi alfabetizado. Felipe também sofre bullying na escola por ser inocente demais e por ser considerado “burro” pelos coleguinhas. Quando ele chega em casa chorando, Marta chora junto com ele.
Fernanda é mãe da Lara, de 8 anos. Lara foi diagnosticada com autismo aos 2 anos mas, desde então, evoluiu tanto que, aos olhos de um leigo, não aparenta diferença. Mas Lara ainda é diferente. Não entende o duplo sentido das expressões usadas pelos colegas, não entende muito bem as pistas sociais. Lara SABE que é diferente. E, às vezes, chora no colo da mãe dizendo que “só quer ser normal como todo mundo”.
O Pietro, filho da Rita, nem parece mais autista. Aos 13 anos, acompanha a classe da mesma idade na escola, está enturmado e consegue ser bem independente nas tarefas de casa. Mas o Pietro, por razões que a Rita não consegue entender, ainda usa fraldas. Só consegue fazer cocô na fralda, por mais que lhe expliquem, argumentem, e ele, racionalmente, entenda que isso não é mais adequado a um rapazinho da idade dele.
Letícia, de 6 anos, é autista severa. Sua mãe, Cláudia, já teve que contê-la por várias vezes devido a seus comportamentos autolesivos. Letícia chegou a usar um capacete para evitar que machucasse a cabeça com suas incessantes batidas. Letícia usa fraldas e, quando Cláudia não chega a tempo, ela tira a fralda e espalha todo o conteúdo pela sala.
Todos os personagens acima são fictícios. O que é verdadeiro nisso tudo é algo chamado “dor de mãe”. É pessoal, intransferível. Cada uma tem seu limiar. Cada uma sabe o quanto suporta. Só a Cláudia, a Rita ou a Fernanda sabem o quanto dói. Só a Marta e a Solange sabem de cor quais sonhos foram adiados ou perdidos. Cada uma delas sabe perfeitamente o que é sofrer pelo filho e com ele.
Dor de mãe. A última coisa que a Fernanda precisa é ouvir que “está chorando de barriga cheia” porque sua filha é autista leve. A última coisa que a Rita precisa ouvir é que “não tentou o suficiente desfraldar o filho”. Solange realmente não precisava ouvir que o “Daniel ainda é não verbal por culpa dela, que não tentou o tratamento X”.
Dedos apontados sobram no mundo. Falta de empatia transborda. Mas mãos que ajudam e braços que acolhem são muito mais necessários e fazem muito mais diferença na vida dessas mães. Na vida de qualquer mãe.
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Foto: Shutterstock
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