Muita gente me pergunta como é o sistema de saúde na Suécia. Não é muito diferente do da Inglaterra. E é bem diferente do Brasil. Vou explicar um pouco disso nesse post.
Lembrando que esta é a minha experiência, ok?! 🙂
1) O sistema de saúde no Reino Unido e na Suécia é praticamente todo público.
Ninguém aqui paga plano de saúde pra ter direito a um hospital particular, melhor e com menos fila. Isso não existe. Está doente, vai para o PS do hospital público. E com fila, viu?! Naquela vez em que o Theo queimou a testa em Londres, esperamos mais de 3 horas para sermos atendidos.
Theo e o acidente com água quente no final de 2013. O maior susto da minha vida!
2) Remédio, principalmente antibiótico, só em ultimíssimo caso.
Em Londres, estive no hospital com o Theo quase vomitando as tripas, tadinho. Já não tinha nada no estômago pra sair. Esperamos um bom tempo pelo atendimento e, quando ele finalmente aconteceu, ouvi do médico que eles não dão remédio para parar vômito. “O QUEEEEEEE?”, perguntou a mãe aqui, já acostumada a chegar no hospital particular do Brasil e ver o filho tomar um Vonau. “Mas e se ele desidratar???”. A resposta: “se ele desidratar, tratamos a desidratação”.
O ponto 2 está relacionado ao ponto 1. Já explico. Como o sistema de saúde no Brasil foi, em grande parte, “privatizado”, a solução acaba sendo focada na pessoa e não no todo. Muitas vezes, o médico pode passar o antibiótico porque sabe que é isso que o paciente espera e que vai resolver o problema com mais rapidez. Aqui, estamos falando de saúde pública de verdade, com visão de longo prazo. Os médicos têm uma real preocupação com o surgimento de bactérias resistentes a antibióticos, que podem ameaçar a saúde da população em geral. Por isso, antibiótico é, realmente, controlado.
Além disso, aqui na Suécia, o sistema de saúde prega que o organismo precisa aprender a reagir a certas bactérias e vírus para não sucumbir a eles novamente. Portanto, um pouco de febre é natural e não deve ser motivo para correr para o hospital (mais uma coisa que nós, com plano de saúde no Brasil, fazemos sem pensar 2 vezes).
Só leve seu filho ao PS daqui após 2 dias de febre de, pelo menos, 39 graus. Menos que isso, vai levar um sabão do médico! Eles dizem que “hospital é para doença de verdade”. Para casos de febre, vômito, diarréia, ou qualquer outra coisa que eles consideram menos séria, há um “0800” para onde a gente liga e é orientado sobre o que fazer. O mesmo acontecia em Londres.
Para ilustrar a mentalidade, outro caso: logo que nos mudamos pra cá, Theo tomou as vacinas DPT e Salk na escola. O local onde foi aplicado inflamou e inchou, ficando até meio quentinho. Lembramos que ele teve uma reação parecida com outra vacina quando era mais novo, e a pediatra, na época, receitou antibiótico. Pois bem. Óbvio que corremos pro PS. Leandro desceu na frente pra ver se era ali mesmo e, em menos de 10 minutos, voltou. Nem deixaram o Theo descer do carro. “É assim mesmo, esse tipo de reação no braço é comum”. Mandaram manter o local ventilado e nos deram um tchau. Passei Nebacetin no bracinho dele e, no dia seguinte, já estava melhor. Será que, realmente, ele precisava ter tomado aquele antibiótico anos atrás?
3) O atendimento diferenciado em casos específicos tem sido muito bom.
Sim, o Theo ficou mais de 3 horas esperando pra ser atendido quando se queimou. Mas já saímos de lá com uma consulta marcada no dia seguinte, em um mega hospital mais próximo do centro, onde havia uma “ala pediátrica para queimados”. Atendimento de primeira, na hora marcada, com o maior cuidado do mundo. Também sinto um cuidado muito grande com as crianças. Em Londres, fomos avisados de que ele tinha dentista marcada. E era dentista focada em pacientes especiais.
Aqui, Theo foi atendido logo no início pela pediatra da escola. Ela deu as vacinas que faltavam e nos direcionou ao dentista e, também, ao oftalmo. A gente recebe uma cartinha em casa avisando do dia e do horário para comparecer. Simples assim.
Theo em sua primeira consulta no oftalmo na Suécia
Para terminar, a criança com deficiência tem direito a usar os serviços do Habilitering de sua região. O Habilitering é como se fosse o “CAPS”. Tivemos uma primeira reunião lá, com direito a intérprete falando em português, para falarmos do Theo e de suas necessidades. Logo depois, recebemos uma carta chamando para uma avaliação com a fisioterapeuta. E, agora, veio uma carta chamando para a avaliação com a Terapeuta Ocupacional.
Os Habiliterings têm um time formado por Terapeuta Ocupacional, Fono, Psicóloga, Fisioterapeuta e Pedagoga. São elas que vão providenciar, após a análise, todo o suporte que o Theo precisa em termos de terapias.
Conclusão
É difícil a gente se desapegar da mentalidade “tenho plano de saúde, então vou correr no hospital porque tá tudo coberto mesmo”. É difícil perder o impulso de correr com a criança para o PS na primeira febre. Mas é um exercício interessante.
Esta semana, Theo esteve bem gripado. Muito catarro, tosse, alguma febre (não alta) por dois ou três dias. Não fomos ao PS e seguimos a orientação, já que a febre não chegou nem perto de 39. E não é que ele está melhor? Aparentemente, o organismo reagiu sozinho.
Nada é perfeito. Tem horas em que eu adoraria poder correr para um hospital particular, quase sem fila, e ser atendida por alguém que quer resolver meu problema ali, na lata. Mas todo o suporte que o Theo tem tido no caso do autismo é coisa de outro mundo. Inacreditável, de verdade. Então, acredito que o conjunto da obra vale muito a pena!
Para encerrar, imagino vocês pensando “nossa, isso tudo de graça!!!”. Não, gente. Não é de graça mesmo. Meu marido resume bem: ele trabalha praticamente de janeiro a julho só pra pagar isso. 50% de impostos é coisa pra caramba! Mas a gente, pelo menos, vê o imposto ser revertido em nosso benefício.
O Brasil ainda tem um longo caminho a percorrer, mas nada acontece se ninguém se mobilizar pra cobrar uma melhor aplicação dos impostos, certo?!
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