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Temple Grandin, Carly e por que não devemos subestimar autistas não verbais

Esse artigo foi escrito por Temple Grandin para a Autism Digest. Segue a tradução aqui! 🙂

Alguns indivíduos com autismo, que parecem ter quadros severos, têm uma “boa mente” presa em um corpo disfuncional, que eles não conseguem controlar.

Carly Fleischmann parecia não ter habilidade alguma quando era uma criança. Ela não falava e estava sempre em constante movimento, destruindo coisas, ou sentada sozinha se balançando. A única coisa com a qual ela parecia se importar era batata chips. Quando deram a ela um aparelho que tinha figuras que falavam quando apertadas, ela aprendeu, rapidamente, como usá-lo. Mas ela achou difícil apertar o botão para uma simples “pausa pro banheiro” quando apertar o botão da batata chips era tão mais atraente.

Professores, algumas vezes, subestimam as habilidades de uma criança. Um professor ia deletar a função teclado do aparelho de comunicação de Carly. Se isso tivesse acontecido, os pais de Carly nunca saberiam que ela conhecia palavras. Um dia, Carly digitou “ajuda dentes doem”. Depois que isso aconteceu, um programa foi iniciado para ensiná-la mais palavras. Todos os objetos na casa receberam rótulos.

Acontece que Carly estava absorvendo uma quantidade enorme de informação, apesar de parecer que ela não estava prestando atenção. À medida em que ela foi se alfabetizando, ela explicou como digitar exigia um grande esforço. Ela era extremamente ansiosa e, com frequência, só digitava com quem conhecia.

Hoje, Carly digita independentemente, e participa de um programa para jovens superdotados em sua escola pública de ensino médio. Ela explica como era tão difícil controlar seu corpo e se sentar quieta.

Ao contrário de mim, Carly estava interessada em garotos, estrelas do cinema, e todas as coisas pelas quais uma adolescente normal se apaixona. Quando ela apareceu na tv em cadeia nacional, ela sabia que teria que ficar quieta e não ter nenhuma crise. Ela disse que seria mais fácil se o câmera fosse realmente bonito. Para Carly, o autismo não define quem ela é. Ela queria que seu cérebro e seu corpo pudessem ser consertados para que as atividades normais ficassem mais fáceis.

Carly Fleischmann (foto: http://bit.ly/1Joy8j5)

Carly Fleischmann (foto: http://bit.ly/1Joy8j5)


Bombardeamento Sensorial

Carly pensa em imagens, que chegam a ela todas de uma vez. Eu posso controlar as imagens que chegam à minha mente, mas a Carly não consegue muito bem. Filtrar os estímulos que acontecem ao redor é difícil pra Carly, e ela, frequentemente, tem muita dificuldade para entender o que as outras pessoas estão dizendo.

A Carly descreve muito bem como os estímulos sensoriais entram no meio e fazem com que ouvir uma conversa fique difícil. Ela conta que, com frequência, ouve somente duas ou três palavras de cada frase. Ela descreve como cascatas de vários estímulos diferentes bloqueiam a conversa. Por exemplo: quando ela estava em um tranquilo Café falando com outra pessoa, o barulho (relativamente baixo), ao fundo, e os estímulos visuais do café poderiam ser filtrados. Ela chama isso de “filtro auditivo”, o que é, frequentemente, muito difícil. Sua capacidade para “filtrar o áudio” ficou sobrecarregada quando uma pessoa passou por sua mesa usando muito perfume. Agora, os sons (previamente filtrados) da cafeteira e a visão da porta abrindo e fechando entraram em sua mente e bloquearam a conversa.

Carly consegue “filtrar o áudio” quando os estímulos ao fundo são baixos, mas quando seu sistema de “filtro auditivo” fica sobrecarregado, estímulos de todos os seus sentidos entram no cérebro e transformam tudo em caos. Nesse ponto, controlar uma “crise” é praticamente impossível.

Para ajudar a controlar as crises e os movimentos corporais, Carly tem que tomar medicação. Controlar-se exige dela muita força de vontade e medicação. Quando ela era pequena, batata chips era a motivação. Hoje, ser capaz de participar em interesses típicos de garotas é o motivador para controlar seu corpo.

O que é o autismo?

A história de Carly nos faz pensar: o que é o autismo? No meu caso, o autismo é parte de quem eu sou, e eu não tenho os interesses sociais que a Carly tem. Eu não tenho o desejo de mudar meu cérebro ou de ser curada. No chamado “alto funcionamento” do espectro, autismo pode ser uma desordem nos circuitos sociais do cérebro. No lado oposto, pode ser uma desordem de “clausura”, onde uma pessoa social está presa em um corpo e sistema sensorial desfuncionais.

Preciso alertar o leitor para ser realista. Nem todas as crianças com autismo severo podem ser como Carly, mas professores e pais que são observadores podem ver demonstrações de verdadeira inteligência em indivíduos que são incapazes de falar.

Link para a matéria original em inglês: http://autismdigest.com/social-teen-inside/

Já viu e ouviu o mundo como Carly? Clique aqui: www.carlyscafe.com

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