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A felicidade da vida perfeita


“Fulana deve ser muito feliz. É magra, rica, casada com um cara gato e tem filhos perfeitos”. “Coitadinha da ciclana…pobre, não tem dinheiro pra nada, que vida infeliz”.

Nós e nossas caixinhas pré fabricadas. Adoramos categorizar as pessoas, procurar padrões, causas e consequências.

Sinto muito ser a pessoa que dá a má notícia, mas poucas coisas na vida são lineares e absolutas como dois e dois são quatro. Tem gente com muito que é infeliz. Tem gente com pouco que é feliz. Quando eu era pequena, meu pai nunca teve condições de dar férias caras para os quatro filhos. Passávamos a maioria delas no sítio dos meus avós, na terra vermelha de Frutal, no triângulo mineiro. Casa simples, sem forração no teto, fogão a lenha. Chegamos mesmo a dormir com um morcego pendurado nas vigas. O apelidamos carinhosamente de “Fabinho”.

Férias de pés descalços, correndo atrás de vaca, pisando no cocô da galinha, subindo na jabuticabeira até ficar com medo de descer. Duvido que algum colega de colégio, que porventura tivesse ido à Disney, tivesse gozado de férias mais felizes que as nossas. Isso é a infância. É a felicidade simples.

Em que momento mudamos? Quando começamos a pensar que, pra ser feliz, é preciso ter “a vida perfeita”? Quando entraram na equação da felicidade o carro chique, o corpo sarado, o filho ostentação?

Um dos maiores aprendizados de se conviver com uma criança autista é ver beleza nas coisas simples. É, de certa forma, recuperar o olhar puro da criança para com a vida. É achar graça até naquilo que outras pessoas consideram tão corriqueiro e banal.

Pois nossos filhos estão certos. A felicidade vem de dentro, e não do que nos cerca. Depende de nós, e não dos outros. Ou das coisas. Depende de como entendemos a vida. De como filtramos os acontecimentos e o que tiramos deles.

O quanto somos nossos próprios algozes? O quanto podemos usar nossas mãos para mudar a situação?

Todo mundo tem dias do famoso “mimimi”, mas viver assim constantemente, como se nada estivesse bom, não vai fazer com que as coisas se transformem magicamente. Só reclamar não nos tira do lugar.

Adoramos colocar a culpa nos outros, talvez, porque é mais fácil achar que podemos mudar os outros do que evoluirmos. Porque mudar dói. É mexer em cantinhos escuros, cavucar, puxar para fora coisas que não queremos ver.

Nossa vida é, em grande parte, consequência das escolhas que fazemos. No momento em que entendemos que somos responsáveis por (quase) tudo, deixamos a posição de vítima e nos empoderamos pra mudar a situação. Pra mudar o rumo.

Muita gente fica esperando a conjunção perfeita dos astros pra ser feliz. “Quando meu filho falar eu vou ser feliz”. “Quando eu ganhar mais eu vou ser feliz”. “Quando eu emagrecer eu vou ser feliz”. Gente, a hora de ser feliz é agora! Hoje! Ninguém nos garante que estaremos vivos amanhã!

Não tenho vida perfeita. Tenho muitos momentos tristes como qualquer pessoa. O autismo também tirou muito de mim. Mas me esforço para focar nas coisas boas. Eu escolho publicar as fotos bonitas, os aprendizados, os sorrisos. Eu escolho contar, do passeio, a parte dos pulinhos, dos abraços e das paisagens, e não do destempero e do descontrole.

Por que? Por que os pulinhos, os abraços e as paisagens valem muito mais! São as lembranças que vão ficar! Escolhas. Filtro pessoal.

Não existe vida perfeita: existem formas de nos treinarmos para extrairmos sempre o melhor da vida que temos.  

(Os conteúdos produzidos por Andrea Werner e disponibilizados neste site são protegidos por copyright e não podem ser reproduzidos, total ou parcialmente, sem autorização expressa da autora, mesmo citando a fonte)

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