
Sou a Andréa. A mãe do Theo.
Eu poderia escrever um texto sobre “mãe de crianças autistas”, mas eu acho as generalizações perigosas. Então, vou escrever somente sobre mim.
Essa sou eu: uma pessoa que sempre quis ser mãe. Que gostava de segurar bebês desde ficou um pouco maior do que eles. Que falava que ia ter seis filhos.
Uma pessoa que queria tanto ser mãe que já começou a tentar engravidar na lua de mel. Dois meses depois, a confirmação do sonho de infância: um bebezinho estava a caminho. O primeiro filho, primeiro neto de ambos os lados, tão amado e desejado desde que ainda era um feijãozinho.
Vi meu filho, Theo, se desenvolver normalmente até quase o primeiro ano, quando, então, começou a perder o brilho no olhar, o sorriso, o contato visual. Esqueceu-se de como fazia pra bater palmas, dar tchau, imitar a piscadinha que ensinamos a ele quando tinha oito meses.
Ouvi de um médico, pouco antes do Theo fazer 2 anos, que ele era autista. Morri um pouco por dentro. Sofri a morte daquele filho idealizado, o bebê risonho de 8 meses que imitava até a nossa tosse.
Renasci, juntei as cinzas, fui do luto à luta.
Se tenho mesmo que subir essa montanha, que seja cantando e não reclamando. Celebro o filho que ganhei, que amo com todas as minhas forças, que tento compreender melhor diariamente.
Mas… Isso não me impede de parar, vez ou outra, e chorar. Um choro dolorido pelo filho que eu, de alguma forma, perdi. Choro pelos sonhos que não vão se realizar. Choro de medo pelo futuro do filho que ganhei. Choro de culpa por nunca achar que me dedico o suficiente. Por achar que o meu melhor está longe de ser o ideal que ele precisa.
Ajudo muita gente através do meu blog. Talvez, por isso, as pessoas tenham dificuldade de enxergar que, muitas vezes, sou eu que preciso de ajuda.
Já saí sorrindo em fotos com o coração despedaçado.
Estou longe, muito longe de ser a mãe perfeita. Eu NÃO SOU um ideal de mãe a ser seguido.
Não tenho o menor talento pra terapeuta do meu filho. Basta eu tentar usar qualquer técnica que seja com ele para que ele vire as costas e me deixe falando sozinha.
Meu filho tem interesses super restritos e eu, até hoje, não consegui ampliá-los. Não consigo fazer com que ele se interesse por brinquedo nenhum, por um livro sequer. Com técnica nenhuma nesse mundo.
Tenho pânico de férias escolares. PÂNICO. Não porque quero ser livre e ir passear enquanto ele está na escola. Mas porque sei que ele está muito melhor lá – onde tem atividades estruturadas e é estimulado por pessoas que estudaram MUITO o autismo – do que em casa comigo, onde entra em tédio pela minha incapacidade total de distraí-lo e sai abrindo torneiras, derrubando frutas no chão, jogando todos os brinquedos para fora das gavetas.
E, quando alguma mãe me conta sobre o interesse de seu filho por letras e números, ou sobre as coisas engraçadas que ele fala eu penso “por que não o Theo? Por que ele não se desenvolveu tanto assim?”. E a culpa volta como facadas no peito.
Não, eu NÃO sou incansável. Muitas vezes, eu desisto de tentar, nem que seja por alguns dias.
Eu me frustro. Eu perco a paciência com o meu filho várias vezes durante uma semana.
Muitas vezes, me sinto incapaz de gerenciar meu filho, meu casamento, o cachorro, minha casa, minha saúde.
Prazer, essa sou eu! Se você continuar a seguir meu blog depois disso, é por sua conta e risco.
Foto: Shutterstock
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