top of page

Amar é dormir abraçadinho na king size

autismo-e-afeto

Tenho duas crianças que não falam aqui em casa. Uma é o Theo. A outra é a Lola. Sim, porque a Lola é, praticamente, uma pessoa. 🙂

Falta de palavras, no entanto, não é falta de amor.

Se tem algo que me talha o sangue é ler que crianças autistas não são afetuosas. Tenho que contar até 10 e respirar fundo várias vezes.


Theo ama. E ama muito e muitos.

Marido viajando, Theo pulou pra minha cama na hora de dormir. Hoje cedo, fiquei olhando o pijaminha sobre o peito subindo e descendo com a respiração, no quarto ainda escuro. E estava pensando em como ele demonstra amor sem palavras.

Amar é dormir abraçadinho na cama king size. Sim, amigos. O Theo vai sempre dormir praticamente em cima de mim, não importa o tamanho da cama. Ele necessita ter alguma parte dele encostando em mim. 

Amar é ficar abraçadinho em silêncio.

Amar é tirar a mãozinha do Ipad, por alguns minutos, mesmo que isso signifique ver um vídeo não tão interessante. Isso tudo para entrelaçar seus dedinhos nos meus e colocar minha mão junto ao peito.

Amar é rir das minhas brincadeiras sem graça, das minhas imitações do Elmo, das minhas dublagens e cantorias sem fim quando ele está no banho, no banheiro, no sofá, no carro.

Amar é fingir que está sendo enganado quando eu o pego na escola e digo “vamos passear um pouquinho”? Mas, na verdade, só estou mantendo-o na rua um pouco mais para tirá-lo do inevitável tédio que conduz ao Ipad em casa. Ele sabe. Ele topa. Ele observa a rua feliz.

Amar é ir pra cama dormir não porque está com sono, mas porque a mamãe está cansada.

Amar é se jogar em cima da Lola assim que chega em casa. 

Amar é pegar a pastinha de PECs e montar a frase “eu quero o papai” quando ele está demorando a chegar do trabalho.

Amar é dar umas risadinhas para as infindáveis fotos que eu adoro tirar…e onde ele não gosta de aparecer.

Amar é continuar fazendo tudo isso apesar de todas as vezes em que perdi a paciência com ele, ou não lhe dei a atenção devida, ou não fiz o melhor jantar que eu poderia fazer, ou o deixei na atividade repetitiva simplesmente porque estava cansada ou porque tinha algo urgente para resolver.

É perdoar diariamente uma mãe tão imperfeita, que tem sérias dificuldades de priorização às vezes. 

“Crianças autistas não são afetuosas”. Só se for no mundo paralelo de alguns profissionais por aí. Aqui em casa (e nas de muitas pessoas que eu conheço), não falta amor.

Imagem: Shutterstock

Comentarios


bottom of page