Já são oito da manhã. Depois de me vestir, chega a hora de acordar o menininho. Após 2 semanas sem aula por causa do “Spring Break”, é hora de voltar à rotina.
Duas semanas que pareceram um mês. Sem suas atividades estruturadas e o grande gasto de energia que acontece na escola, meu garotinho regrediu em alguns comportamentos. Mal olha quando o chamamos pelo nome, piorou muito as estereotipias vocais e está mais bagunceiro do que nunca.
Em compensação, adquiriu um apego maior ao Ipad e brinca de jogos que eu nem imaginava que ele sabia mexer. Fica ali por um bom tempo, com o olhar super concentrado. Pula de um aplicativo para o outro em um piscar de olhos.
O sorriso
Abro a porta do quarto, ainda escuro, e o vejo embolado em seu edredon. Dorme de bruços, profundamente. Sento-me a seu lado na cama e passo a mão em seus cabelinhos recém cortados. “Amor, é hora de acordar! Hoje, você volta pra escola”, digo com a voz baixa bem pertinho de seu rosto. Aproveito para respirar fundo junto à sua bochecha e sentir seu cheirinho quente tão gostoso. Ele abre um leve sorriso e me puxa para perto sem abrir os olhos. Coloca sua boca na minha testa e começa a fazer os barulhinhos de quem está despertando bem devagar.
Meia hora depois, ele já está de banho tomado e vestido em seu uniforme verde. Quando percebo que ele está acabando sua torrada, menciono de novo a volta à escola. E ele abre um sorriso lindo, que ilumina todo o rosto.
E é assim que meu coração de mãe me diz que ele está feliz ali. Que é bem tratado, aceito e querido. Que as atividades são interessantes pra ele. Que há motivação, que é o primeiro passo para o aprendizado.
Meu garotinho sorri. Ele está feliz! Estou feliz também.
Após deixá-lo na escola, volto para casa e abro o computador. Mexendo em arquivos antigos, dou de cara com essa foto.
arquivo pessoal
Há exatos 6 anos, eu estava com esse barrigão. Theozão ainda era chamado de “Theozito”. Faltavam só 2 meses para que eu visse sua carinha gorda. E, nesse dia, depois de ver os resultados das fotos, lembro que conversei com a minha barriga…mas especificamente, com o garotinho comprido que chutava minha costela constantemente. E o que falei pra ele foi mais ou menos o seguinte: “Você foi extremamente desejado, querido e amado. E vou amar você até o fim dos meus dias. Vou fazer o que for necessário para que você seja feliz. Eu e seu pai te aguardamos ansiosos para que possamos ser uma família completa. Mal posso esperar para ver o seu rostinho e ouvir a sua voz”.
Dois anos após essa foto, Theo foi diagnosticado com autismo. Quatro anos depois, viemos morar em outro país. E nada disso muda cada palavra que eu disse naquele dia. Só que, hoje, quando falo com ele, eu acrescento algumas coisinhas: “Filho, você foi extremamente desejado, querido e amado. Vou amar você até o fim dos meus dias. Te amo, hoje, muito mais do que amava quando você era um bebê dentro da minha barriga. Amo o seu rostinho lindo e amo ouvir a sua voz. Vou até o fim do mundo para garantir que você tenha as melhores oportunidades! Tenho muito orgulho de você e te amo do jeitinho que você é”.
E, quando falo isso, ele olha para cima, para o lado, mexe no Ipad ou no brinquedo e…dá um sorriso.
Meu filho está feliz. Estou feliz também!
arquivo pessoal
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