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As aventuras de uma família nômade (A Missão)

Em junho de 2014, após quase um ano morando em Londres, escrevi um texto chamado “As aventuras de uma família nômade“. Nele, eu contava que estávamos novamente de mudança, desta vez para Estocolmo (que eu chamava carinhosamente de Arandelle).

E lá se foram 2 anos morando na terra bonita e gelada. Fomos muito felizes lá, Theo aprendeu demais durante este período graças a uma escola super preparada (e ao incrível Tio Mark), Lola comeu toneladas de neve, vimos a Aurora Boreal da janela de casa e fiz uma amiga pra vida inteira: a Vivian.

A Suécia é um país extremamente avançado e a qualidade de vida é indiscutível: transporte público excelente, natureza pra todo lado que você olha, animais silvestres em pleno quintal, e uma segurança essencial pra uma família com TDA (Déficit de Atenção). Não foram poucas as vezes em que esquecemos a chave de casa enfiada do lado de fora da porta e só fomos descobrir no dia seguinte.

Mas…tudo tem um “mas”, não é?! Os suecos não são amigáveis como os britânicos. São um povo bem mais fechado. Theo não conseguia brincar com as crianças na rua porque não falava (sueco nem nada), coisa que, aqui no Brasil, é facilmente remediada com a “mãe mediadora”. Só que a mãe mediadora também não falava sueco. Fim. Cansei de ver meu filho olhando as crianças brincarem pelo vidro da janela da cozinha, e aquilo partia meu coração em pedacinhos.


Outra coisa que pesou além da conta foi a saudade da família. Quando você vê seus pais com frequência, não nota tão facilmente o envelhecimento que vem sorrateiro, se escondendo entre uma ruga e outra. Quando você os vê somente 1 ou 2 vezes em um ano, este envelhecimento samba na sua cara com uma caipirinha na mão. E isso começou a nos assustar muito.

Voltando ao Theo, sim, ele era feliz lá, apesar de se irritar muito com a quantidade de roupas exigidas no inverno. Afinal, ele é o cara com mais “calor de pé” que eu conheço no mundo inteiro. Imagina como foi enfiar uma bota de neve ali?? Ok, mais um desafio vencido com a ajuda do Tio Mark. Acontece que, cada vez que um familiar vinha visitar, Theo chorava sentido na hora da partida. Sabe aquele choro doído, cheio de lágrimas? Pois é. Era outra coisa que partia meu coração em pedacinhos.

Eu sentia falta da vida social, tanto pra mim quanto para o meu filho. Sair na Suécia é caro demais. Pra vocês terem uma noção, uma vez, pagamos uma babysitter pra ficar com o Theo durante 4 horas pra que eu e Leandro pudéssemos sair pra jantar. Chegou a conta: 2200 coroas, o equivalente a quase 1000 reais. O.O Resultado: ficávamos em casa. Theo não tinha amiguinhos.

Tendo dito isto, resolvemos que 3 anos no exterior eram suficientes. Nosso apartamento em São Paulo estava alugado e meu marido ainda teria que ficar uns meses na Suécia. Isso me levou a decidir ir para Belo Horizonte com Theo e Lola. E foi a melhor decisão que eu poderia ter tomado por vários motivos. Primeiro porque recebemos uma overdose de carinho familiar, e estávamos precisando muito. Segundo porque meus pais me ajudam DEMAIS com o Theo. DE-MAIS. Meu pai, principalmente, tem uma relação fora do normal com o Theo. Costumo dizer que são melhores amigos. Quem me acompanha no instagram está acostumado a ver os vídeos com as gargalhadas dos dois.



E, em terceiro lugar, porque achamos O TIME DE TERAPEUTAS MAIS FODÁSTICAS DO BRASIL aqui em BH (desculpaê). E me sinto totalmente na obrigação de dar nome aos bois aqui:

  1. Fono: Carla Menezes

  2. Terapeuta Ocupacional (Integração Sensorial): Johanna Melo Franco

  3. E toda a equipe do CEI (Centro de Estudos e Intervenção para o Desenvolvimento Humano): a psicóloga (e doutora) Camila Gomes, as terapeutas ocupacionais Analice Dutra e Ana Paula Oliveira, a querida psicóloga Tia Naná (Ianaiara Marprates) e a psicóloga Mariana Gonzaga, que cuidava da parte escolar.

Não preciso pontuar todos os progressos que o Theo teve em menos de um ano com essa turma, preciso? Ok, só pra relembrar: Theo está começando a vocalizar. Também já pega no lápis bonitinho, com pinça e tudo, e já consegue escrever algumas letras. Já toma banho quase sem auxílio.

Também não tenho como deixar de citar a escola Instituto Arcanjo Gabriel, que nos acolheu de braços abertos desde o início, fez várias adequações de acordo com as necessidades do Theo, e fez meu garotinho ir saltitante e feliz para a van escolar todos os dias.

Falei da turma da natação da R3 neste post aqui!

Da minha parte, fui totalmente acolhida pelas meninas do grupo Padecendo no Paraíso, que conseguiram me botar pra cima nessa época difícil com o marido lá do outro lado do mundo. E, finalmente, consegui voltar à mesma forma que tinha quando me casei há 10 anos com uma ajuda essencial: a de uma personal que batia aqui na porta de casa e não me deixava fugir do batente. É a Débora Azadinho, tão querida, competente e profissional!

Mas…(lá vem o “mas” de novo)…nossa casa é em São Paulo. Morei lá mais de 10 anos, meu marido é de lá, meu filho nasceu lá…É ali, no meio daquele caos que amamos, que estão a maioria de nossos amigos. É lá que estão as melhores oportunidades profissionais. E é também onde está o apartamento que compramos com tanto sacrifício…e que, a partir do dia 15 de junho, estará desocupado para voltarmos.

Saímos de lá como 3 e voltamos como 4. Retornamos com poucos bens materiais, mas com uma babagem enorme de experiência e de amadurecimento.

Mas e o Theo?

Ainda não conversei abertamente com ele a respeito. Conhecendo meu filho, antecipação demais é ruim. Ele fica muito ansioso e para até de dormir. Acontece que, como já sabíamos, Theo é esperto até demais. E capta uma conversa aqui, outra ali…o resultado é que estamos com um rapazinho totalmente desregulado por aqui. Xixi pra todo lado, alguns episódios de agressividade, tudo isso eu imagino que seja devido à mudança.

Principalmente porque, se pararmos pra pensar, “mudança” pra ele significa mudança de país. Mudança para aquele lugar onde só se chega dormindo dentro do avião. Loooooonge. Difícil de ir. E, agora, ele tem um gostinho da presença constante dos avós, do vovô que sempre o coloca pra dormir, que brinca com ele o tempo todo.

Sim, vou fazer uma história social. Preciso que ele entenda que São Paulo está a somente uma hora de voo, e que vamos nos ver sempre. Mas o racional é uma coisa e o emocional – principalmente para a criança autista – é bem mais complicado.

Como diria a Kátia, “não está sendo fáaaaaaciiiiiiillll”. Mas falo pra vida “já acabou, Jéssica??”. E continuamos a nadar! 🙂

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