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Autismo, escolas e Londres parte 1: diversidade

Imagine a cena: Em uma sala de escola regular e particular, no Brasil, a professora diz aos alunos que um colega novo vai chegar. E que ele é diferente, mas que todos devemos respeitar as diferenças. Esse colega não fala e faz alguns barulhos. João olha para os colegas ao redor, apreensivo. “O que devo esperar?”, questiona-se. Lá na frente, a professora percebe a agitação. E dá uma olhada geral para sua classe: todos os alunos são brancos, típicos, de classe média ou superior.

Agora, imagine a mesma cena, mas em outro local: Em uma sala de escola pública, em Londres, a professora diz aos alunos que um colega novo vai chegar. E que ele é diferente, mas que todos devemos respeitar as diferenças. Esse colega não fala e faz alguns barulhos. Amanina, uma garotinha de ascendência indiana, olha para os colegas ao redor e todos estão tranquilos. Lá na frente, a professora nota, feliz, a recepção dos alunos à notícia. Afinal, ali, já vemos crianças de todas as cores e credos. Há brancos britânicos, negros, indianos, meninas muçulmanas de véu, crianças imigrantes que ainda nem falam bem o inglês. Acho que você já entendeu o meu ponto.

O meu primeiro aprendizado dessa viagem à Londres foi que, pra mim, é muito mais fácil ensinar o respeito à diversidade em um local onde a diversidade já existe, há tempos, em todas as salas de aula.

Daí, você pode me dizer “ah, mas São Paulo também recebeu vários imigrantes”. Sim. Mas com uma diferença: em São Paulo, as classes médias e altas frequentam as escolas particulares. Escola pública é para as classes mais baixas compostas, em grande parte, por pessoas negras. Levanta a mão, aí, uma pessoa acima de 20 anos de idade que tenha tido 1 só coleguinha negro na escola particular! Essa divisão de classes, no nosso país, acaba separando, também, as raças. Isso é cruel. E dificulta a inclusão das pessoas com deficiência.

Não existe diversidade, pelo menos não nas escolas particulares do Brasil. Todos iguais, pasteurizados, com as mesmas mochilas de grife, os mesmos brinquedos favoritos, o mesmo linguajar. E nós vamos crescendo assim, acostumados com isso. E o diferente nos incomoda. Qualquer tipo de diferença. Não é à toa que, aqui em Londres, as únicas pessoas a encararem o rapaz de cabelo azul, no metrô, sejam turistas. O mesmo acontece com os casais gays, andando, despreocupadamente, de mãos dadas. O pessoal daqui nem se toca, muito menos, se incomoda. Porque já está, há muito tempo, acostumado com a diferença, com a diversidade, com vários jeitos, tipos e cores de pessoas. Desde pequenos, desde o jardim de infância.

Claro que isso tem a ver com o nível de desenvolvimento do país. Há aquele chavão famoso: “o país desenvolvido não é aquele em que o pobre tem carro, mas aquele onde o rico anda de ônibus”. Eu diria que o mesmo se aplica à escola. Aqui, a maioria das escolas particulares são pra gente muito, muito rica (de verdade). E que curte uma “grife”. Mas a maioria das crianças, de todas as classes, vai é pra escola pública mesmo. Porque ela é de qualidade. E isso propicia essa misturinha tão saudável para toda a sociedade. Então, se você me perguntar “qual foi o primeiro ganho que você percebeu que o Theo vai ter aí”, eu te respondo da seguinte forma: ele vai ter um privilégio que eu não tive. Coleguinhas de todos os tipos, cores e jeitos!


Foto: http://bit.ly/Z55slL

       Foto: http://bit.ly/Z55slL

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