“Nunca idealize os outros. Eles nunca vão alcançar as suas expectativas.” ~ Leo Buscaglia
O fotógrafo francês Malo criou esta série, acima, que recebeu o nome de “Un jour, mon enfant tu seras” (“Um dia, minha criança, tu serás”, em tradução livre). O mesmo bebê em questão veste uniformes de várias possíveis profissões futuras. Fofo, né?!
E eu tava, aqui, vendo as fotos desse bebê e pensando: e não é exatamente assim que a gente faz? Pelo menos, na nossa imaginação, é assim que funciona. Idealização é uma coisa muito complicada. A gente começa fazendo isso com namorado. Eu lembro que uma psicóloga, uma vez, me falou o seguinte: “você tem uma forminha na sua mão esquerda e o namorado na mão direita. E você tenta, desesperadamente, enfiar o namorado nessa forminha. E fica perna sobrando pra um lado, braço pro outro!”. Ótima analogia.
E, depois do namorado, fazemos isso com o filho – antes mesmo dele nascer. Ele ainda é do tamanho de um feijão na nossa barriga e já conseguimos vislumbrá-lo em sua roupa branquinha de médico, ou em sua bata de juiz, ou fazendo seus cálculos de engenheiro (afinal, o pai dele é engenheiro, então você imagina que ele vai querer seguir o mesmo rumo). E, provavelmente, foi assim que nossos pais fizeram com a gente, e os pais deles fizeram da mesma forma, bem antes. Porque é uma coisa natural, claro.
Lembro do meu pai falar, quando eu era criança, pra mim e pros meus irmãos: “quem, aqui, vai fazer medicina pra cuidar do papai quando ele ficar velho?”. Tadinho…ninguém, lá em casa, aguentava ver sangue. (Mas todo mundo tomou um rumo legal na vida!) 🙂
E assim vamos nós: terminamos a escola já emendando o vestibular. E passar no segundo grau já consome energia suficiente pra gente não ter muito tempo pra pensar no que, de fato, queremos fazer da vida. E, quando percebemos, já estamos na faculdade. O tempo voa e, de repente, nos vemos jogados no mercado de trabalho. E eu me pergunto: quais as reais escolhas que fizemos nesse percurso?
E a história tende a se repetir com nossos filhos. Porque, por mais que a gente não ache ideal, é assim que as coisas são. E imagino a leitora dizendo “eu não quero o meu fiho de 5 anos sem tempo pra brincar e ser criança, mas ele vai ficar em desvantagem frente às outras crianças se não fizer, também, inglês, kumon, natação e mais um monte de coisas”.
E é aí que a minha história fica diferente da de muita gente. Porque a estrada que eu tomei, em um certo ponto da vidinha do Theo, foi uma diferente. E me assustou muito, no início, pensar que o Theo não estudaria no colégio x como eu imaginei, não faria faculdade como eu imaginei, e por aí vai.
O Theo não tem um “deadline” – como se diz no mundo corporativo – para terminar a escola. Ele vai terminar quando tudo der certo. Ele vai repetir se tiver que repetir, se isso for o melhor pra ele. Ele não tem obrigação nenhuma de terminar o ensino médio aos 17 anos. E também não tem obrigação nenhuma de fazer vestibular, de passar no vestibular, de fazer faculdade, de cair no mercado de trabalho de paraquedas e ficar, talvez, anos, fazendo o que não gosta (como aconteceu comigo e como acontece com muita gente boa por aí).
O nosso esforço vai ser no sentido de descobrir o que ele REALMENTE gosta de fazer, qual é sua verdadeira paixão, e ajudá-lo a se desenvolver nisso pra ser feliz e, quem sabe, pra ganhar um dinheirinho. Independente do que seja essa paixão.
O Theo não tem obrigação de se casar. Ninguém nunca vai cobrá-lo por não ter uma namorada. Aliás, recebi um comentário excelente, nesse sentido, essa semana. Uma mãe muito querida, que acompanha sempre o blog, me contou que, quando recebeu o diagnóstico de autismo do filho, perguntou ao médico, angustiada: “Mas, doutor, meu filho vai se casar?”. E a resposta do médico foi algo como “minha filha, se casamento fosse a solução para os problemas da humanidade, tava todo mundo feliz”. Ponto.
E, talvez, essa seja uma das maiores contrapartidas que vem com um diagnóstico difícil como o do autismo: você aprende, de verdade, a não idealizar o seu filho. Aprende que precisa, primeiro, entender quem ele é e como pode ajudá-lo a alcançar a tão sonhada independência. E entende que, pra ele ser feliz, o que você tem a fazer não é garantir que ele termine a escola cedo, fale inglês e alemão, e conclua uma boa faculdade. Mas ajudá-lo a identificar suas próprias paixões e aptidões para que ele possa se desenvolver fazendo o que gosta. E, pra terminar, sei que o mundo não é justo, mas não seria legal se todas as pessoas pudessem fazer dessa forma?
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