“Há três coisas para as quais eu nasci e para as quais eu dou minha vida. Nasci para amar os outros, nasci para escrever, e nasci para criar meus filhos. O ‘amar os outros’ é tão vasto que inclui até perdão para mim mesma, com o que sobra. As três coisas são tão importantes que minha vida é curta para tanto. Tenho que me apressar, o tempo urge. Não posso perder um minuto do tempo que faz minha vida. Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca […].” ~ Clarice Lispector
É…Clarice estava completamente certa. Quer um resumo maior pra ser mãe do que “dar amor e, às vezes, receber amor em troca”?
Começamos a dar amor no instante em que sabemos que há um feijãozinho ali dentro da barriga. Conversamos com ele, acariciamos, cantamos. Isso tudo sem ter a menor noção de como será essa criaturinha. Sonhamos com ele. Muitas acertam, outras – meu caso – , passam longe. Eu jurava que o Theo era menina! 🙂
Mas nada supera aquele momento: a primeira vez em que você ouve a voz do seu feijãozinho…que cresceu, misteriosamente, dentro de você. E que, agora, saiu para conhecer o mundo e os pais. Lembro da Dra Rita dizer: “Andréa, você está pronta?”. E eu, meio alheia pelo nervosismo e a anestesia, respondi: “Sim, você vai começar?”. E ela emendou: “não, ele já vai nascer!”. Quatro segundos. E aquele choro! Acho que foi o choro mais lindo que eu já ouvi na vida! Meu menino nasceu! Lindo, enorme, forte! E foi nesse momento que eu passei a, também, receber amor.
Virei mãe!
Um amor que começa na forma de um olhar, um choro quando se está distante, e vai passando pra sorrisos, risadinhas, beijos de boca aberta, abraços apertados, expressões de felicidade. E o grande mistério do amor de mãe, eu descobri recentemente: a gente pega esse “amor que recebe de troca às vezes”, multiplica por mil e devolve. E, assim, vira tudo um lindo ciclo virtuoso!
Mas chega de falar de mim. Queria aproveitar esse Dia das Mães pra homenagear duas mães muito importantes – na minha vida e na vida do Theozão.
Theo e vovó Deary
Essa vovó aí, segurando o Theozão mesmo com o ombro operado, é a vovó Deary. Ele não vai se lembrar disso, mas ela morou na nossa casa durante todo o primeiro – e difícil – mês dele. Passou várias horas durante a noite com ele no colo, balançando na cadeira, esperando as cólicas passarem.
E como ele adorava o colinho dessa avó! Tinha horas em que eu até ficava com ciúmes, porque só ela conseguia acalmá-lo com sua voz doce, falando baixinho, seu colinho gostoso e acolhedor.
Lembro-me muito bem desse colinho. Lembro de viajar sentada nele, observando as vaquinhas que ela me mostrava na estrada. Lembro-me de deitar nesse mesmo colo para chorar quando era rejeitada por algum namoradinho ou sofria bullying na escola. Lembro-me de ouvir dela o quanto nos parecíamos. Lembro-me de ouvir que eu tinha que estudar. E que, o importante em um homem não era dinheiro, mas esforço pessoal e caráter. Lembro-me de sua inocência infantil, sua bondade inabalável, seu caráter e coragem. Lembro-me do carinho com que cuidou de seu pai doente, depois de sua mãe…e, alguns anos depois, dos netinhos que nasceram!
E também me lembro de seu pão de queijo, sua lasagna…porque mãe também tem dessas coisas!
Lembro-me de vê-la chorando quando me mudei pra São Paulo. E, também, de quando recebeu seu diagnóstico de câncer, com o qual vem lutando bravamente há 3 anos, sem nunca perder a fé e a alegria.
Como não se orgulhar dessa pessoa? Como não amar pra sempre? Dona Deary, o amor que você foi me dando, eu fui devolvendo aos poucos. E, hoje, te digo, com certeza, que você, junto com o papai (e o Theozão), são as pessoas que eu mais amo e admiro na vida! A distância nunca vai mudar isso! Por favor, seja eterna (como Drummond fala naquele poema)!
Theo e vovó Rosa
Essa aí em cima é a vovó Rosa, mãe do meu marido Leandro. Dá pra ver de onde ele puxou a beleza. 🙂
Rosa é uma jovem senhora. Casou-se aos 18 e teve o Leandro aos 19. Construiu uma vida e uma linda família.
E foi, por muito tempo, a principal responsável pelos nossos momentos de “máscara de oxigênio”. Sim, porque, mesmo com o ombro ou o joelho doendo (ou ambos), ela, muitas vezes, recebia o Theo em casa para passar um dia nos fins de semana. Tudo pra que os pais dele pudessem descansar.
Ela foi, praticamente, a segunda mãe dele em São Paulo. Mãe com benefícios…porque ele sabe que pode comer, lá, coisas que não come em casa e adora! Coisas de avó mesmo…
E foi ela a primeira pessoa que nos abraçou e chorou junto quando tivemos o diagnóstico do Theo. E foi ela, na verdade, a primeira a notar que ele tinha algo de diferente…e sofreu calada.
E eu sei que ela ama esse menininho como se fosse filho dela. Dá pra ver isso em cada pratinho de comida que ela prepara com tanto carinho, em cada beijo que ela lhe dá, em cada barra de calça que ela já fez pra ele, em cada coisinha que comprou porque achou que ele ia gostar.
Ela se apegou tanto à causa do autismo que ajudou a fundar uma ONG em Guarulhos – o CIAAG – para ajudar crianças autistas que não tenham condição de bancar um tratamento. Além disso, ainda faz trabalho voluntário em um hospital. Se “amar os outros é a única salvação individual”, como diz a Clarice, minha sogra já está no céu.
Dizem por aí que sogra é coisa ruim. Existem várias piadas a respeito. Sinto muito sair da estatística: eu amo a minha sogra. Não posso dizer que é uma segunda mãe pra mim, porque ela é muito jovem pra isso. 🙂
Mas posso dizer que é uma amiga. E que eu e o Theozão (e o Leandro, claro) a amamos muito. E é assim – chorando, claro – que eu encerro a minha homenagem do Dia das Mães: agradecendo muito a essas três pessoas: – Ao Theo, por me fazer mãe – À minha mãe maravilhosa, que eu amo tanto – À minha sogra incrível, que faz tanta diferença na nossa vida. Tenho muita sorte em ter vocês!
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