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Meu 2015 real e as previsões não concretizadas

Fonte da imagem: http://bit.ly/1jAcCfF

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21 de outubro de 2015 chegou e não temos nada de skate flutuante. Ou de jaqueta que se ajusta ao corpo. Quando eu vi esse filme, lá em meados dos anos 80, eu pensava que essa data estava a anos luz de distância. E cá estamos nós. Olhando friamente, não temos skates flutuantes, mas temos muitas coisas legais demais que não foram previstas no filme: a internet, pra começar. Fico pensando como era mudar para o exterior nos anos 80 sem poder pesquisar NADA (bairros, escolas, casas) pela internet. Chegar em um lugar completamente às cegas.

E morar no exterior naquela época? A única opção para falar com as pessoas era o DDI, caríssimo! Ou mandar uma carta e esperar mais de um mês pela resposta. Digamos que a internet facilita demais a minha vida nesse aspecto e em outros também.

Dizem que a internet afasta as pessoas. Eu a vejo muito mais aproximando do que afastando. Graças a ela, retomei contato com gente que não falava há anos. Fiz novas amizades daquelas que são pra vida toda. Como não amar?

E tem mais coisas legais que não apareceram no filme: temos tecnologia para achar água em Marte, uma possível cura do Mal de Alzheimer vindo, novos tratamentos para tantas doenças terríveis.

Quanto ao autismo, hoje em dia, o diagnóstico está mais certeiro. Nos anos 80, principalmente no Brasil, pouco se sabia sobre autismo. Muitas crianças eram diagnosticadas erroneamente com esquizofrenia ou retardo mental, eram institucionalizadas, nunca expostas aos olhos da sociedade. Hoje em dia, há tratamentos melhores. Há a luta pela inclusão social e escolar. Ainda estamos engatinhando nisso, mas nem se compara ao que era há 20 anos.

Hoje em dia, as minorias estão mais conscientes de seus direitos. Há uma luta aberta nas redes sociais e fora delas contra o machismo, a homofobia, ao racismo, assuntos sobre os quais ninguém falava naquela época.

Assim como algumas previsões do filme não se concretizaram, algumas (muitas) previsões que eu fazia para a minha vida também não. Vamos lá:

  1. Eu imaginava que estaria casada e com uns 4 filhos. Sim, isso era o que eu achava nos anos 80.

  2. Eu tinha certeza de que ainda estaria em Belo Horizonte.

  3. Eu estaria morando em uma casa com uns 3 cachorros.

  4. Eu achava que seria médica. Ou advogada.

  5. Mas…eu achava que a maior realização pra uma mulher, em 2015 ainda seria ser mãe e esposa. (Veja bem…já falaremos nisso)

Ok. É 2015 e eu tenho só um filho. Gostaria de ter tido mais um (não quatro), mas o autismo veio e mudou nossos planos. Não vou ser hipócrita e falar que isso não me dói às vezes, mas a vida é feita de escolhas difíceis, e essa foi uma delas. Optamos por não correr o risco de receber outra criança autista. Optamos por focar nossos recursos e forças no Theo. E vamos lidar da melhor forma possível com as consequências dessa escolha.

Recebi uma mensagem interessante de uma pessoa há umas semanas pelo snapchat. Não vou lembrar as palavras com exatidão, mas ela dizia que, se o Theo fosse uma criança típica e virasse um adulto típico, talvez nós três não fôssemos “pessoas tão legais”. Eu detesto chover no molhado, mas é fato que o Theo me mudou muito. E claro que mudou meu marido também. E talvez esta pessoa tenha razão. Talvez eu continuasse na rota do fútil. Talvez eu nunca me interessasse tanto por ajudar os outros na mesma situação que eu. Talvez eu continuasse achando que a realização máxima na vida de uma mulher é ser a dupla esposa/mãe.

O autismo me colocou mais em contato com outras realidades. Entendi como o machismo faz mal à sociedade. Como a homofobia não faz o menor sentido. Como ainda temos toneladas de arroz e feijão pra comer para construirmos uma sociedade mais igualitária e menos racista.

Não moro em Belo Horizonte: moro em Estocolmo. Longe, frio, mas com a assistência que meu filho necessita. Não tenho 3 cachorros, mas tenho a Lola, que vale por muitos! Não sou médica nem advogada, mas sou jornalista, cuido deste blog que orienta pais e mães de crianças autistas, e acabei de escrever meu primeiro livro. Vou reclamar do que, gente? Da falta da POHAN de um skate flutuante? Do autismo? Só em raros momentos de mimimi.

A beleza da vida é a imprevisibilidade.

O mais importante que eu ganhei nesses 20 anos? Resiliência. Receber o que vier e lidar da melhor forma possível. Aceitar o que a vida mandar de braços abertos e achar um jeito de tirar coisas boas de tudo.

E vamos embora pros próximos 20 anos! Mal posso esperar pra ver o quanto vou continuar aprendendo até lá!  

(Os conteúdos produzidos por Andrea Werner e disponibilizados neste site são protegidos por copyright e não podem ser reproduzidos, total ou parcialmente, sem autorização expressa da autora, mesmo citando a fonte)

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