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O tiroteiro nos EUA e a cobertura da mídia

Foto: http://bit.ly/1PzVdSw

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Tenho certeza de que todos estão estarrecidos com o que aconteceu ontem em uma escola no estado de Connecticut, nos Estados Unidos. Segundo a polícia, um jovem invadiu uma escola atirando e matou, ao menos, 20 crianças. Tragédia enorme para os pais e para todos os que conseguem imaginar o que seja passar por esse tipo de situação.

Terrível, também, é a cobertura que a mídia local tem dado ao acontecimento. Já não é a primeira vez que insinuam que um atirador desse tipo deve ter autismo. Isso aconteceu, também, no tiroteio do cinema em Aurora, no Colorado, em Julho passado. E, em ambos os casos, uma certeza: as afirmações de que os assassinos “deveriam estar no espectro do autismo” foram feitas sem nenhum tipo de prova concreta.

Ontem à noite, no calor dos acontecimento, a CNN convidou um “expert” (desses psiquiatras que adoram aparecer na tv) chamado Xavier Amador para falar sobre o perfil do assassino. Esse sujeito disse, dentre outras coisas, que um “sintoma de autismo” é que “tem alguma coisa faltando no cérebro, a capacidade de sentir empatia, a conexão social, o que deixa a pessoa que sofre dessa condição inclinada à depressão profunda e ansiedade”. E, ao discutir o papel de uma condição mental na tragédia, ele culpou o “possível” autismo do assassino.

Pra começar, não tem nada faltando no cérebro das pessoas autistas! Nunca vou saber de onde essa pessoa tirou isso… E, sem me alongar mais, gostaria só de deixar claro que a afirmação de que autistas não sentem empatia É FALSA. Psicopatas não têm empatia!

Segundo a Dra Ana Beatriz Barboza Silva, autora do livro “Mentes Perigosas”, o psicopata é uma pessoa que não consegue sentir emoções. “É frio, calculista e racional. Sua vida nem passa pelo mundo dos afetos”.

Os autistas sofrem da dificuldade em expressar ou verbalizar os sentimentos…o que não quer dizer que eles não os tenham! Essa dificuldade, inclusive, costuma ser fonte de grande sofrimento para eles, que, via de regra, são extremamente sensíveis.

Sair inferindo que todos os assassinos em massa por aí são autistas é totalmente injusto, incorreto e perigoso.

Autistas, em geral, são muito mais vítimas do que causadores de violência. Autistas não representam perigo para a sociedade. Esse tipo de disseminação errônea, sim. Pessoas ruins cometem atos bárbaros. E isso independe de serem neurotípicas ou autistas.

A ASAN (Autistic Self Advocacy Network) enviou uma carta formal aos meios de comunicação sobre o ocorrido. A tradução (livre) segue abaixo:  

Declaração da ASAN sobre as reportagens da mídia acerca do tiroteiro em Newtown 14 de Dezembro de 2012

Em resposta às recentes reportagens da mídia que afirmam que o atirador de Newtown, Connecticut, pode ter sido diagnosticado no espectro do autismo ou com um transtorno psiquiátrico, a Autistic Self Advocacy Network (ASAN) formulou a seguinte declaração hoje:
“Nossos corações estão com as vítimas do massacre de hoje na Sandy Hook Elementary School em Newtown, Connecticut, e com suas famílias. Reportagens recentes na mídia têm sugerido que o causador dessa violência, Adam Lanza, pode ter sido diagnosticado com a Síndrome de Asperger, condição pertencente ao espectro do autismo, ou com outro transtorno psiquiátrico.
Em qualquer dos casos, é imperativo que, enquanto estivermos em luto pelas vítimas dessa horrível tragédia, os comentaristas e a mídia evitem criar links inapropriados e infundados entre autismo e outras deficiências e violência.
Os autistas americanos e os indivíduos com outras deficiências não são mais passíveis de cometer crimes violentos que pessoas sem deficiência alguma. Na verdade, as pessoas com todos os tipos de deficiências, incluindo o autismo, são muito mais passíveis de serem vítimas de crimes violentos do que autores destes.
Se for provado que o atirador de hoje foi, de fato, diagnosticado no espectro autista ou com qualquer outro transtorno, os milhões de americanos com deficiências não devem ser relacionados às suas ações, tanto quanto a população que não possui deficiência não deve ser relacionada aos atos dos atiradores sem deficiência.
A violência de hoje foi ato de um indivíduo. Nós pedimos à mídia, ao governo e aos líderes comunitários para levantaram suas vozes contra qualquer tentativa espúria de linkar os autistas ou a comunidade de pessoas com deficiências aos crimes violentos.
Os autistas americanos e outros grupos de pessoas com deficiências continuam sofrendo discriminação e segregação nas escolas, no ambiente de trabalho e na comunidade em geral. Nesse tempo terrível, nossa sociedade não deveria estigmatizar nossa comunidade ainda mais.
Como nossa grande nação fez tantas vezes no passado, vamos nos unir para, ao mesmo tempo, sofrer pelos mortos nesse ato de homicídio hediondo, e defender todos os moradores do país  do flagelo do estigma e do preconceito”.

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