Eu me achava uma mãe super informada. Sempre li muita coisa, queria saber de tudo. No final das contas, como já contei pra vocês, eu fui a última a notar que tinha algo de diferente no Theo.
Via de regra, o que acontece é que deixamos tudo para o pediatra. Confiamos naqueles seis anos de universidade (e mais dois de residência) aos quais aquela pessoa, teoricamente, se dedicou. Ainda não entendi se é cultural ou de onde vem isso. Mas, em uma enquete rápida com amigas, descobri que a frase mais ouvida nos consultórios dos pediatras é “tudo tem o seu tempo”. “Ele vai falar no tempo dele”. “Ele vai fazer X no tempo dele”. E o pior: “não compare seu filho com outras crianças”. Em muitos casos, a gente não deve, mesmo, comparar. Mas, com relação ao nível geral de desenvolvimento, precisamos, sim, fazer isso!
Não estou aqui para questionar a grade curricular dos cursos de medicina. Mas acho, sim, que isso vai ter que ser discutido seriamente em algum momento, porque é fato que muitos pediatras, no Brasil, não estão preparados para identificar transtornos como o autismo em bebês. Mas, por enquanto, o meu foco é no que você, mãe ou pai, pode fazer nesse sentido. E, confie em mim: o melhor a fazer é se informar.
O CDC (Centro de Controle e Prevenção de Doenças nos EUA) tem um programa chamado “Act Early” – basicamente um “aja cedo”. Eles disponibilizam informações sobre os chamados “marcos de desenvolvimento” de toda criança. E por que isso é importante? Porque habilidades como começar a andar, sorrir e “dar tchau”, apesar de parecerem corriqueiras, são importantes para sabermos se a criança está no ritmo adequado de desenvolvimento. E é importante, neurologicamente falando, que a criança atinja esses “marcos” (ou comece a demonstrar essas habilidades) no tempo correto. Não estou falando, aqui, só de autismo. Algumas falhas no desenvolvimento podem indicar hipotonia, problemas auditivos, visuais, motores e mais várias outras coisas que, se identificadas precocemente, são muito mais tratáveis.
Já imagino a leitora (ou leitor) pensando: “assim, eu fico maluca! Não quero ficar neurótica, procurando pelo em ovo”. Acho que dá pra achar um meio termo, certo?! É possível um equilíbrio entre o “vou deixar tudo com o pediatra” e o “estou preocupada porque meu filho espirrou diferente hoje”. Você pode ver a lista completa dos marcos de desenvolvimento do CDC, a partir dos 2 meses, aqui: http://www.cdc.gov/ncbddd/actearly/milestones/milestones-2mo.html
Para que o post não fique muito comprido e chato, traduzi somente os “red flags” (ou sinais de alerta), dos 9 meses aos 2 anos de idade. Se o seu filho apresentar algum desses sinais (para a idade correspondente), você deve procurar ajuda médica. Um último conselho: procure, de preferência, um neurologista ou neuropediatra. 🙂
Marcos do desenvolvimento
Bebê de 9 meses:
Não aguenta seu próprio peso nas pernas (com ajuda)
Não se senta com ajuda
Não balbucia (“mamã”, “baba”, “papá”)
Não faz brincadeiras que envolvem imitação
Não olha quando é chamado pelo nome
Não parece reconhecer pessoas familiares
Não olha para onde você aponta
Não passa um brinquedo de uma mão para a outra
Bebê de 1 ano de idade:
Não consegue manter-se de pé com ajuda
Não procura pelas coisas que ele vê você esconder
Não diz palavrinhas como “mamãe” ou “papai”
Não aprende gestos como “dar tchau” ou balançar a cabeça (para “não”)
Não aponta para as cosias
Perdeu habilidades que tinha
Bebê de 18 meses de idade:
Não aponta para mostrar as coisas para as pessoas
Não anda
Não sabe para que servem coisas que ele já conhece
Não imita os outros
Não segue instruções simples (como “pegue o brinquedo”)
Não adquire novas palavras
Não fala, pelo menos, 6 palavras (excluindo repetições)
Não percebe (ou parece não dar importância) quando o pai ou a mãe chegam ou saem
Perde habilidades que já tinha
Bebê de 2 anos idade:
Não usa frases de duas palavras (por exemplo “dá água”)
Não sabe o que fazer com coisas comuns como pente, telefone, garfo, colher
Não imita palavras e ações
Não segue instruções simples (age como se fosse surdo)
Não anda de forma estável
Perde habilidades que já tinha
P.S: agora em 2017, a sanção da Lei nº 13.438/2017 obriga o Sistema Único de Saúde (SUS) a adotar protocolos padronizados para a avaliação de riscos ao desenvolvimento psíquico de crianças de até 18 meses de idade. É coisa pra se comemorar e muito!
Imagem: Shutterstock
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