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Quando a gente se engana

Dias atrás, postei a foto abaixo na fanpage do Facebook:

Captura de Tela 2015-10-25 às 15.30.11

 A discussão que seguiu foi bem interessante. Muitas mães reclamaram que nunca foram avisadas pelos médicos ou fonos sobre a hipotonia de língua, e algumas fonos esclareceram outros fatores que causam essa condição, além de alertarem para os cuidados ao manusear o rosto da criança com massagens.

Quatro dias depois, uma amiga de infância postou esta foto na minha timeline:


(arquivo pessoal)

(arquivo pessoal)


A foto foi tirada quando ela nos visitou em SP alguns meses após o nascimento do Theo. A legenda era “diretamente do meu resgate do Orkut”.

Sabem como é ter a verdade escancarada ante os olhos? É como se um véu tivesse sido tirado do meu rosto. É como se aquela neblina que me turvasse a visão finalmente cedesse à luz do sol e me permitisse enxergar, com clareza, a estrada.

Perguntei à Bruna quando, exatamente, tinha sido essa visita. Ela me respondeu que foi no início de Janeiro de 2009. Theo tinha, portanto, 7 meses recém completados. E a linguinha estava ali, para fora da boquinha do meu bebê tão lindo.

Imediatamente, chamei uma fono que eu conheço pelo Facebook e perguntei se, nessa idade, a língua, assim para fora, seria considerada anormal. E ela me confirmou que sim. E que isso também pode ser causado por problemas respiratórios, coisa que o Theo nunca teve.

Quem acompanha este blog há muito tempo, talvez já tenha entendido onde quero chegar. Eu sempre falei que o Theo foi um bebê normal, e que o autismo só se manifestou por volta do primeiro aninho. Sempre considerei o autismo do Theo como “regressivo”. Até tratei disso nesse post aqui. Para mim, o autismo, que já estava nos genes, começou a se manifestar por algum gatilho ambiental por volta do oitavo ou nono mês. Eu, inclusive, considerava que uma otite feia que ele teve aos 8 meses – um mês após esta foto, portanto – teria sido esse gatilho. Eu me enganei. Eu estava errada. E, naquele dia, vi isso com uma clareza indiscutível.

Ao comentar isso com a amiga que postou a foto, em particular, ouvi, dela uma confissão. Anos depois, já após saber do diagnóstico, ela conversava com o pai. E foi quando ele a lembrou de que, dentre os comentários que ela fez sobre o Theo naquela visita, ela citou “diferente”, “ausente” ou “alheio”.

Sim, há vídeos do Theo imitando e batendo palminhas aos 8 e aos 9 meses. O que fica claro pra mim é que o quadro de autismo se agravou bastante até o primeiro aninho…mas ele SEMPRE esteve ali. Sutil, disfarçado, quase imperceptível, mas presente.

Theo sempre foi extremamente agitado desde a gravidez. Até hoje, nunca ouvi um bebê chorar mais alto que ele, que também enjoava de qualquer brinquedinho em 5 minutos. O desmame foi tão fácil que ninguém acreditava. Theo já era um bebê diferente. Theo já era o Theozão.

Sim, eu me enganei. Nunca saberei o quanto disso foi inconsciente ou não. Talvez, um dia, eu entenda as razões…talvez, eu quis acreditar que soube, por alguns meses, o que era ter um bebê que atingia todos os marcos do desenvolvimento.

Mãe também se engana. Algumas certezas, que consideramos sólidas como uma rocha, podem se desfazer ao vento como um castelo de areia.

Não, o autismo dele não foi desencadeado após uma otite. Theo já nasceu autista. Hoje, eu sei disso.

Agora, posso escrever sobre isso porque a dor passou. No dia da descoberta, me senti frágil e triste. Não senti culpa…eu sei que não tinha informação suficiente para fazer nada naquela época. Mas me senti uma fraude, uma pessoa que se enganou por 4 anos.

Dormi na cama do meu garotinho e chorei olhando aquele rostinho tão familiar. E, quando ele acordou de manhã, se enrolou no meu pescoço e me deu um beijo demorado na testa. Sim, o Theozão sempre foi o Theozão: carinhoso, apegado, sensível. E eu o amo do jeitinho que ele é.  

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