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Sobre a dor que cria a pérola

Esta semana, uma amiga compartilhou uma entrevista com o escritor Rubem Alves que me impactou muito. 

Já começava com o título “eu cheguei onde cheguei porque tudo que planejei deu errado”. UAU! Sabe quando você lê algo e pensa “esta pessoa está falando de mim”?

Eu achei, por muito tempo, que meu lugar era nas grandes multinacionais, com minha vida de executiva, de roupas bonitas, salto alto e maquiagem. Hoje em dia, escrevo para vocês com as pernas esticadas no meu sofá e vestindo a roupa de ginástica que ainda não tirei depois de dar uma corridinha na rua. E olha que me considero muito mais bem sucedida!


Tudo deu errado mesmo. Acabei largando uma vida com um salário confortável, um certo glamour, e fui acompanhar de perto as terapias incessantes que meu filho fazia à época do diagnóstico. Nada de salto, maquiagem, roupas engomadinhas. O jeans e a sapatilha passaram a ser meus companheiros constantes, dirigindo com o Theo do Morumbi à Vila Mariana todo santo dia.

Tudo deu errado? Dizem que, às vezes, a gente precisa se perder pra se encontrar. No meio desse caos todo de readequação de estilo de vida e expectativas, descobri minha real vocação. E ela não tem glamour, não tem pose, não traz dinheiro. Mas nada nunca me trouxe tanta realização e satisfação!

Hoje, as lembranças do Facebook me trouxeram esta foto:

(arquivo pessoal)

(arquivo pessoal)


Ela foi postada na minha timeline em junho de 2010 por uma amiga. Era época de Copa do Mundo e fomos, em um grupo de amigos, assistir o jogo na casa dela. Postei a foto assim mesmo, sem edição alguma, para que vocês notem o que salta aos olhos: em primeiro lugar, meu abatimento. Em segundo, a ausência no olhar do nosso Theozinho.

Acontece que ele tinha sido diagnosticado há menos de um mês. Eu estava no auge da perplexidade, do luto, do choro, da falta de saber pra onde me virar. 

Hoje, conversando com a mesma amiga sobre a foto, ela me disse: “Lembro da barra que foi quando você descobriu. Fico imaginando se você tivesse acesso a um blog como o seu naquela época”. Bingo! Foi EXATAMENTE por isso que eu comecei o blog!

Então, cada vez que recebo uma mensagem dizendo “descobri seu blog na primeira noite após o diagnóstico do meu filho, e ele foi o maior alento que eu poderia receber”, ou “consegui sair mais rápido do luto quando descobri o seu blog”, eu penso que, de alguma forma, as coisas não deram tão errado assim. 

E, em um dia como ontem, em que estava extremamente emotiva pelo aniversário do Theo e li, individualmente (em algumas horas), mais de MIL comentários de felicitações pra ele, tão cheios de amor, gratidão e carinho, eu só pude pensar é que tenho feito alguma coisa direito! 

No final da entrevista de Rubem Alves que me inspirou a escrever este texto, ele conta o seguinte:

“Nem toda ostra produz pérola. Só a ostra que sofre produz pérola. Porque a ostra para produzir a pérola tem de ter um grão de areia. Tem de ter uma coisa que a irrite. E assim, ela vai produzir a pérola para deixar de sofrer. Ela vai trabalhando aquele ponto agudo e cortante até que ele seja envolvido por uma coisa lisinha, que é a pérola.  Em muitas de minhas histórias, eu fui uma ostra que produziu a pérola porque eu tinha um grão de areia que me cortava.” ~ Rubem Alves

Então, queridos leitores, este blog só está aqui porque houve um grande sofrimento. O que vocês encontram aqui foi produzido porque eu tinha um grão de areia que me cortava. 

Grandes sofrimentos fazem a gente se perder, se achar, se reinventar, e até produzir pérolas. Espero que cada um de vocês consiga achar um caminho em meio ao sofrimento para encontrar sua verdadeira vocação, deixar coisas de lado e abraçar o novo!

E, antes de terminar, MUITO OBRIGADA por todas as mensagens para o Theo. Não consegui responder a todas pessoalmente, mas li tudo, cada uma delas! E acredito que, um dia, ele também irá ler!

P.S.1: a entrevista com Rubem Alves que citei, você pode ler AQUI

P.S.2: este blog gerou um livro! Informe-se sobre os eventos de lançamento AQUI

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