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Sobre mudança, adaptação e medos

No domingo, dia 18 de junho, entramos novamente no nosso apartamento de São Paulo após quase 4 anos fora (3 no exterior e quase 1 em Belo Horizonte).

Para mim, parecia um sonho. Ainda me belisco todos os dias. Para o Theo, mistério. Deixamos que ele entrasse na frente e fosse acendendo as luzes, meio desconfiado, e tentamos perceber algum lampejo de reconhecimento. Afinal, quando saímos daqui, ele tinha 5 anos e meio, o que eu já considero suficiente para ter alguma lembrança, se levarmos em consideração a minha “memória de elefante”, que me traz à mente coisas de quando eu tinha 3 anos.

Os olhos negros de jabuticaba demonstravam uma felicidade contida, quase como quem curtiu o presente, mas ainda está tentando entender como ele vai funcionar. Sinceramente, não sei dizer o quanto ele se lembrou.

Quanto ao apartamento, ele parece igual ao que deixamos em 2013, quando nos mudamos para a Inglaterra. E isso nos dá um conforto enorme, já que o entregamos novo e mobiliado para ser alugado. Para quem não se lembra, mudamos para cá em novembro de 2012 e, em janeiro de 2013, já ficamos sabendo que íamos nos mudar pra Londres.

Apenas a cama de solteiro que foi do Theo tinha sido retirada pelo locatário, o que fez com que ele tivesse que dormir no sofá cama até que a nova cama que compramos chegasse, no fim da mesma semana.


Lola e todas as suas plaquinhas de endereço

Exaustos após uma viagem longa e cansativa, fomos dormir tarde no domingo, até nos ajeitarmos com camas, lençóis, toalhas e afins. Aí, o primeiro momento de stress: Theo não queria dormir no sofá cama e chorou muito, de verdade. Eu interpreto o fato desta forma: ele já mudou muito em sua curta vida. Não estava entendendo muito bem o que acontecia ali. E não queria ser deixado sozinho para dormir.

No dia seguinte, segunda-feira, ele já foi para a escola. A mesma que frequentava quando moramos aqui antes. Vesti seu uniforme e fui falando “o Theo vai para uma escola nova, muito legal”. Eu podia perceber a ansiedade naquele rostinho quando chegamos à porta. Assim como no caso do apartamento, não tenho como dizer se ele reconheceu ou não o local, mas o fato é que voltou para casa com um sorrisão.

E assim foi nossa primeira semana de volta: Theo estranhamente calmo, a ponto de não vermos uma só crise por dias. As saudades dos avós, com quem morou nos últimos meses, aparentemente estava sob controle. Cheguei a comentar com o marido que desavisados iriam achar que ele estava medicado! No rosto, um sorriso que se abriu ainda mais quando chegou a tal “cama nova” da qual a mamãe falava tanto. Cama de casal, assim como a que ele tinha no exterior. (O menino se acostumou com muito espaço…como o passaríamos de novo para uma cama de solteiro??). E foi assim que vários receios que eu tinha quanto à mudança se desvaneceram: ele levou tudo bem até demais. Está feliz na escola. E está dormindo a noite inteira sozinho na própria cama, apesar de ter passado os últimos 9 meses dividindo – espaçosamente, diga-se de passagem – a cama comigo em BH.

Uma das coisas que mais nos espantou foi que o “monstro da bexiga solta”, que nos assombra em todas as mudanças abruptas com o Theo, não apareceu na primeira semana. Entre ontem e hoje, três acidentes aconteceram, mas ainda acredito que são pontuais. Ele se esquece de ir ao banheiro e, se nos esquecemos de lembrá-lo, voilá. Um dos acidentes aconteceu hoje, quando ele tentava se esquivar da terapia. O famoso “comportamento de escape”.

Por falar em terapia, Theo continua o trabalho de verbalização através do ABA que começamos em BH com a equipe do CEI. E viva a tecnologia, que proporciona a oportunidade de supervisão de um trabalho daqui pela equipe de lá.

Mais terapias? Não. Por algum tempo, é isso. Ele estuda a tarde inteira. Além disso, acabamos de vir de BH, um lugar onde as coisas custam X, para SP, onde custam 3X. Ainda precisamos entender como vai funcionar nosso “orçamento” aqui.

Quanto a mim, estou muito feliz, mas ainda meio anestesiada. É muito bom estar de volta à cidade que eu amo e à nossa casa.

Estou com uma tosse horrível que não passa nunca, já que é alérgica, e nossa mudança que veio do exterior chegou mofada. Isso mesmo…fomos desencaixotando tudo e limpando cada ítem, por menor que fosse, porque tinha mofo em lugares inimagináveis. Toneladas de roupa pra lavar, algumas coisas perdidas de vez, mas acabou. A última caixa foi esvaziada ontem e, por isso, agora eu tenho esperanças de que vou melhorar.

Um texto enorme pra contar pra vocês que me perguntam sempre “como está o Theo” e “como foi de mudança” o status das coisas por aqui. E, também, pra lembrar que tempestades passam. Nem tudo eu conto por aqui. Alguma parte da minha vida precisa continuar privada pela minha sanidade mental, mas digo que passamos por muita coisa até chegar de volta ao nosso ap. Tempestades passam. E o céu azul volta a aparecer por trás de uma nuvem, inicialmente meio tímido, até se escancarar de vez com o sol que invade o espaço. Lembrem-se disso nos dias difíceis.

Outra coisa é, como já falei milhares de vezes, a infinita capacidade que nossos filhos têm de nos surpreender. De nos mostrar que nossos medos são inúteis, por vezes, até ridículos. Que o sofrimento por antecipação não compensa. E que a maioria absoluta das coisas ruins que tememos não vão acontecer.

Estamos em casa. Na nossa casa. E estamos juntos como família novamente. Com xixi no sofá ou sem, com mofo ou sem mofo, é o que mais queríamos. Então, é perfeito.

Foto do topo: Shutterstock

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