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Sobre ser “normal”

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“A vida é como um quebra-cabeças: deveríamos parar de tentar encaixar as pessoas onde elas não cabem” ~ Autor desconhecido

Essa semana, tive um pequeno diálogo com uma mãe de criança autista. Foi mais ou menos assim:

Mãe: “Fico incomodada porque meu filho pula e balança as mãos quando está feliz.”

Eu: “Ah, mas isso não tem nada demais.”

Mãe: “Mas crianças normais não fazem isso.”

Eu: “Sim. Mas o seu filho é autista.”

Mãe: “Me desculpe, mas o meu objetivo de vida como mãe é fazer com que meu filho se comporte da forma que a sociedade considera o mais normal possível.”

A ocasião e o local não eram propícios para continuar a discussão. Então, não falei o que eu queria falar. Sobrou pra vocês, MUAHAHAHA! Vou falar aqui.

Defina “normal”, por favor. O que seria “se comportar da forma que a sociedade considera o mais normal possível”?

De acordo com o dicionário, “normal” significa “de acordo com a norma, com a regra; comum”. Ok. Já descubro que não sou “normal”. Nunca fui. Já fugi à regra em inúmeros momentos na minha vida.

E pra você? O que você, leitor, considera normal? Aqui vai uma listinha do que a nossa sociedade anda considerando “normal”:

  1. Mães de crianças de 6 meses discutindo se elas devem ir pra escola bilíngue em inglês ou alemão;

  2. Crianças de 8 anos com stress devido à sobrecarga de aulas, inglês, judô, natação, Kumon, inglês e espanhol;

  3. Meninas de 10 anos cantando em alto e bom som músicas em inglês cheias (CHEIAS) de duplo sentido e expressões de baixo calão;

  4. Jovens de 21 anos colocando botox;

  5. Crianças batendo de frente com seus professores e dizendo coisas como “você trabalha pra mim, meu pai paga o seu salário”;

  6. Mulheres, sem a menor vocação pra serem mães, tendo filhos por aí simplesmente porque “é o que a sociedade espera delas”;

  7. Pais dizendo para os amigos “se meu filho for gay, vai apanhar muito pra aprender a virar homem”;

  8. Pessoas comentando uma matéria sobre duas meninas estupradas por 10 homens de uma banda de pagode e dizendo coisas como “se entraram no ônibus deles, é porque estavam querendo”;

  9. Jovens extremamente bons profissionalmente mas despreparados para sua ascensão meteórica, vivendo à base de remédios psiquiátricos.

Bom…não. Meu filho não é normal aos olhos da sociedade. E nunca vou forçá-lo a se encaixar nesse padrão. Prefiro me dedicar ao máximo para mostrar à sociedade que as pessoas reagem à ansiedade de formas diferentes: umas bebem, outras malham, outras comem…e algumas fazem barulhinhos, pulam e balançam as mãos! Prefiro tentar ensinar às pessoas que tem gente que fala e gente que não fala. Assim como tem gente negra e gente branca. E heterossexuais e homossexuais. E que todos merecem respeito.

Se balançar as mãozinhas é importante pro meu filho e ele não consegue deixar de fazer isso, ok pra mim. Eu aceito. E vou tentar fazer com que o mundo aceite também.

Ninguém pede a um deficiente auditivo pra “parecer menos surdo” para ser aceito pelos coleguinhas. Então, ninguém deve pedir ao meu filho para “parecer menos autista”!!!

E, antes que me chamem de conformista, não estou dizendo que não devo ajudar meu filho a superar suas dificuldades para conseguir ter uma vida feliz, independente e produtiva. Esse é meu objetivo de vida. Mas jamais será tentar transformá-lo no que não é, ou no que a sociedade gostaria que ele fosse, ou que considera “normal”.

“You may say I’m a dreamer…but I’m not the only one”.  John Lennon

P.S: se você foi essa mãe e chegou até esse post, peço que não fique chateada. Só estou mostrando como tenho uma opinião um pouco diferente… 🙂    

Imagem: Shutterstock

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