Quando tive o diagnóstico do Theo, em nenhum momento o médico mencionou esta coisa chamada de “Transtorno de Processamento Sensorial”. E teria feito uma baita diferença pra mim ouvir mais a respeito! Por isso, aí vem o post!
Já comentei, rapidamente, sobre a questão das dificuldades de processamento sensorial que as crianças autistas têm. Pois bem. Acontece que isso não é exclusividade de crianças autistas. Segundo uma estatística americana, 1 em cada 20 pessoas tem algum tipo de problema de processamento sensorial (fonte: SPD Foundation).
5% de incidência é muita gente! Claro que a incidência é bem maior em autistas, mas existe muita criança neurotípica por aí com TPS (transtorno de processamento sensorial) sem que os pais tenham a menor ideia disso.
O que é o transtorno de processamento sensorial
Basicamente, o TPS interfere na forma com que o cérebro recebe, processa e responde aos estímulos vindos dos sentidos (tato, paladar, audição, visão, olfato). Ele também afeta os estímulos recebidos via sistemas proprioceptivo e vestibular, que têm a ver com a percepção corporal no espaço, tônus muscular e equilíbrio. Já percebeu como muitas crianças autistas parecem mais “estabanadas” que o normal? 🙂
Quando pensamos em TPS, a primeira imagem que vem à cabeça é aquela clássica da criança tampando os ouvidos. Mas esse é só um dos sintomas de sensibilidade sensorial. E é por isso que eu pensava que meu filho não tinha essa coisa aí. Afinal, ele nunca se incomodou com barulho ou com toque (muito antes pelo contrário).
Até que descobri que existe hipo e hipersensibilidade. E, lendo a lista de características das crianças hipo sensíveis (que, basicamente, buscam sensação), percebi que o Theo tem 80% dessas características:
Coisas que você nota em sensory seekers (crianças que buscam sensações):
Gosta de girar
Sobe em coisas muito altas
Sobe em tudo
Tromba nas coisas (pessoas, móveis, parede)
Coloca a boca/lambe coisas não comestíveis (móveis, brinquedos, corpo)
Mastiga coisas não comestíveis (como a própria roupa)
Come excessivamente
Constantemente luta com os irmãos
Toca em tudo
Brinca com a comida
Faz bagunça para comer
Enche muito a boca com comida
Come comidas apimentadas ou condimentadas
Pouca resposta à dor (esquece rapidamente dela)
Joga todos os brinquedos pra fora da caixa só pra olhar pra eles
Gosta muito de brincar com lama, água, sabão, e outras coisas bem sensoriais
Pula muito
Gosta de andar descalço
Mastiga a escova de dentes
Não consegue ficar sentado quietinho na cadeira
Cai da cadeira sem razão aparente
Procura barulhos altos (aumenta o som da tv, coloca brinquedos barulhentos próximos ao ouvido, gosta de secador de cabelo, aspirador de pó, etc)
Não consegue regular bem o próprio volume (você diz constantemente “pare de gritar”)
Cheira tudo
Por outro lado, há as crianças hipersensíveis. E essas são as características principais:
Coisas que você nota em sensory avoiders (crianças que evitam sensações):
É excessivamente seletivo com a comida (prefere uma textura específica ou sabores básicos)
Cobre as orelhas quando há barulho (odeia aspirador, liquidificador, secador de cabelo)
Não gosta de ser tocado (não é uma criança que curte abraço ou ficar aninhada no colo)
Odeia etiquetas e costuras das roupas
Não gosta de colocar sapatos (ou prefere somente um tipo de sapato)
Evita atividades que sujam (lama, areia, etc)
Evita atividades manuais como pintura ou massinha
Anda nas pontas dos pés
Não gosta muito de brincar no playground (subir no brinquedo, balançar)
Odeia fralda ou roupa molhada/suja
Não gosta de ter as pessoas próximas demais
Se recusa a tomar banho ou a brincar com água
Não gosta de água no rosto
Não gosta ou se recusa a escovar os dentes
Reclama de cheiros
Reclama que a luz normal é brilhante demais
Super sensível a dor (tudo machuca)
Evita/recusa adesivos, band-aids, etc.
Tendo dito isto, nenhuma criança é 100% seeker ou avoider. Em geral, elas são mais uma coisa, mas com pinceladas da outra. Por exemplo: Theo é o típico sensory seeker. Adora passar a mão em tudo, andou até lambendo recentemente, adora abraço, enfia várias bolachas na boca de uma vez, etc. Mas ele implica com etiquetas das roupas, não deixa colocar nada na cabeça (como chapéu ou boné) e, colocar um band-aid nele é tarefa pro Chuck Norris.
Seu filho é excessivamente seletivo com comida? Curte demais um barulho alto? Aperta/toca tudo? Lambe os brinquedos? Na dúvida, procure um neuropediatra ou terapeuta ocupacional especializada em Integração Sensorial. Existe tratamento pra isso, e pode tornar a vida do seu filho bem mais fácil.
Imagem: Shutterstock
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