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Um Everest pra escalar

Todo mundo tem um punhado de sal pra comer, uma estrada tortuosa pra atravessar, um Everest pra escalar. Algumas pessoas têm tudo isso junto. E, quando os desafios são muitos, pode acontecer de perdemos um pouco da fé.

Não estou falando de fé em algum deus ou fé religiosa, mas daquela certeza de que as coisas vão dar certo no final. Por qualquer razão que seja. Porque a gente precisa disso pra viver. Fé, essa, que nossos filhos precisam que tenhamos. Porque acreditar neles faz toda a diferença. Ver o potencial e investir nele é a grande mola propulsora do desenvolvimento dos nossos filhos.

Já percebi que temos um sistema que se autoalimenta aqui em casa. Theo percebe que eu acredito muito nele e responde à altura. E quando, por um acaso, a situação fica mais difícil com ele e eu desanimo, ele vem com uma surpresa, algo totalmente inesperado, como que para me lembrar de que ele é capaz, ele sempre vai se superar. E isso renova a minha fé.

O que é banal para a maioria das mães que eu conheço sempre foi um Everest aqui em casa. Algo super simples na teoria. Uma coisa chamada “boné”. Ou chapéu, ou capuz, ou qualquer coisa que se ponha na cabeça da criança.

Nas festas a fantasia da escola, eu sempre tinha que inventar algo que não exigisse adereços na cabeça. Porque o Theo NUNCA suportou nada ali. Nem mesmo o capuz do agasalho. Nem por 10 segundos. Esforço perdido. Melhor deixar pra lá.

Por isso, quando a professora mandou um recadinho avisando que a equoterapia iria começar, comemoramos. Mas logo desanimamos ao ler a observação no canto inferior do papel: “só poderão participar as crianças que utilizarem o capacete”. CAPACETE?? Nesse momento, eu e meu marido nos olhamos e a frase saiu quase que sincronizada das duas partes: “então, ele não vai fazer equoterapia”. Não me lembro se o Theo estava por perto e ouviu. Não importa. Ele respondeu da melhor forma que poderia à incredulidade desta mãe que vos fala.

Fim de tarde, chego à escola para buscar o garotinho. Uma das professoras, que é portuguesa, chega falando em inglês comigo. “Theo gostou muito de andar a cavalo”. Imediatamente, achei que tinha ouvido errado. Pedi para que ela repetisse. “Theo gostou muito de andar a cavalo. Ele reclamou um pouco do capacete no início, mas acabou deixando”. As palavras ressoavam na minha cabeça como se várias pessoas falassem ao mesmo tempo. Mandei um “o que??”. Ela repetiu tudo em português, achando que eu não tinha entendido o inglês.

Como eu continuava com cara de pastel, Isabel chamou a professora chefe, Eva, dizendo “ela não está acreditando que ele fez a equoterapia!”. E veio Eva com o Ipad me mostrar essas fotos:


Theo tendo seu dia de cowboy

Theo tendo seu dia de cowboy


Comecei a chorar descontroladamente. Abracei a professora que, atônita com essa demonstração de afeto latino, retribuiu. E eu chorava, e ria, e fazia ela prometer que ia me mandar as fotos naquele mesmo dia, porque eu precisava compartilhar isso com tanta gente!

E veio o garotinho sorridente. Aquele sorriso largo, olhar safado, de quem sabia que tinha me pregado uma peça. De quem estava orgulhoso do próprio feito e feliz ao ver a emoção descontrolada de sua mãe. E eu o abracei e beijei tanto, TANTO, que perdi a noção do tempo.

Theo me ensina a cada dia. Mal posso esperar pelas surpresas que ele ainda vai me trazer.

O que seria de mim sem esse garotinho que renova diariamente minha fé? Agora, eu sei disso. E vou me lembrar sempre.

No fundo daquele olhar sapeca, ele me dizia: “Viu, mamãe? As coisas podem estar difíceis, mas eu sou capaz! Eu fiz! E vou fazer muito mais! Acredite em mim que eu vou retribuir sempre!”.  

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