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Um pouco de paciência

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“Grandes obras são concluídas não por força, mas por perseverança.” ~ Samuel Johnson

Minha mãe costumava dizer: “a pressa é a inimiga da perfeição”. Tenho aprendido, no dia a dia, o quão verdadeiro esse dito popular pode ser.

Se alguém me perguntasse, hoje, qual tem sido meu maior aprendizado com o Theo, eu saberia facilmente responder: tenho aprendido a ser paciente. A esperar. A construir tijolo por tijolo. E a saber que não sou dona do tempo.

Quando começamos o tratamento do Theo, ele não sabia comunicar o que queria. Em geral, levava a mão da gente até os objetos. Fomos orientados a pegar a mãozinha dele, esticar o dedinho e falar “aponta, filho, com o seu dedinho”. E, assim, fomos.

Como uma boa apressadinha, eu esperava que ele começasse a fazer isso em um mês de insistência. Mal sabia eu da real dificuldade que uma criança autista tem em, simplesmente, apontar. Porque isso significa comunicação, um dos maiores desafios pra eles.

E o tempo foi passando, e eu fui desanimando. Cheguei mesmo a pensar que ele nunca faria aquilo. Até que, em um fim de semana inesquecível, ele começou a apontar pra tudo, frenético, achando aquilo o máximo. Alguma barreira invisível em seu pequeno cérebro fora rompida. Isso era indiscutível. Quanto tempo demorou? Um ano. UM ANO, caro leitor. Um ano de desesperança, ceticismo, impaciência. Mas, também, um ano de muito trabalho. Os tijolinhos que fomos montando um a um, dia a dia, tinham virado um muro!

Tenho meus exercícios pessoais de paciência todos os dias. Quando o Theo se frustra – seja porque não conseguiu se comunicar ou, simplesmente, porque recebeu um “não” – vem uma birra daquelas. No chão, chutando para os lados, chorando extremamente alto. E uma mãe normal entra em parafuso. Porque mãe não foi treinada para ignorar choro de filho. Simples assim!

E foi assim, após várias tentativas e erros, que descobri que, muitas vezes, tenho que deixá-lo chorar. Porque ele não vai ouvir qualquer um que tentar falar com ele nessa situação. Com o coração partido, aprendi a dizer “entendo que você está chateado e vou sair até que você se acalme. Quando você estiver mais calmo, a gente conversa”. E que grande exercício de paciência! Ainda estou tentando entender quais 10 minutos demoram mais a passar: 10 minutos naquela aula power de bike na academia ou 10 minutos com uma criança (que você ama) berrando a plenos pulmões.

Mas é daí que vem uma das maiores lições da vida materna: quando seu filho está fora de controle é que você tem mais obrigação de manter o seu. É fácil? Não. É muito, muito difícil. Tem vezes em que parece impossível. Mas temos que tentar. Se nós, pais, não tivermos paciência com eles, como podemos exigir de professores, cuidadores e terapeutas a mesma coisa?

Outro grande teste de paciência tem acontecido recentemente, desde que o Theo começou na escola nova. Novidade, pra ele, significa agitação, principalmente na hora de dormir. Então, todo aquele esquema do “Super Nanny”, que costuma funcionar muito bem em 90% do tempo, foi pras cucuias nas últimas semanas.

Theo, à noite, está visivelmente cansado, até mesmo bocejando. Mas com uma agitação fora do normal. Então, a rotina tem sido: coloco ele na cama, apago a luz, falo boa noite e saio do quarto. Ouço barulhos no quarto. Abro a porta e a luz está acesa. E tem um garotinho saltitante no meio do quarto…ou do banheiro. Apago a luz, coloco ele na cama novamente. E lá vem barulho. E coloco esparadrapo para que ele não acenda mais a luz. Ele foge para o banheiro. E por aí vai…até que ele se canse de vez e apague sozinho.

Não tem sido nem um pouco fácil. Até mesmo, porque, à noite, ele não é o único que está cansado. E não são poucas as vezes em que acabo chorando de frustração com toda essa novela. Mas, que outra opção eu tenho senão esperar? E esperar? E esperar mais um pouquinho?

Com isso tudo, posso dizer, com certeza: você, que me conheceu antes do Theo, não sabe como eu mudei no quesito paciência! Já estou praticamente atingindo o nível ninja! 🙂

E ainda vem mais por aí. Porque há outros tijolinhos sendo colocados no dia a dia. E tenho certeza de que, com a dose certa de perseverança e paciência, eles vão virar muros. E esses muros vão virar salas, quartos, corredores. Até que, um dia, vamos poder visualizar o lindo castelo que construímos juntos!

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