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Virando do avesso

Post feito no auge do luto, com um diagnóstico recém recebido, há uma semana do aniversário de 2 anos do Theo.

O post acima foi feito no auge do luto, com um diagnóstico de autismo recém recebido, há uma semana do aniversário de 2 anos do Theo. Hoje, meu garotinho faz 7 anos. Como o tempo voa!

Lembro-me muito pouco da gravidez. Também tenho vários buracos na teia mental da época em que ele era bebê. Mas os acontecimentos que cercaram seu aniversário de 2 aninhos permanecem frescos na memória.

Porque houve muita dor. Mas houve, também, o renascimento de uma mãe e um pai. E isso não é coisa que se esqueça tão facilmente.

Há um aplicativo muito interessante no celular chamado “Timehop”. Ele resgata os seus posts de vários anos atrás – do Facebook, do Instagram e do Twitter – e te refresca a memória. Tenho que confessar que passo muita vergonha olhando para mim mesma há 5 ou 6 anos atrás. O que vejo ao olhar para a pessoa que eu era nessa época é alguém desesperada por autoafirmação, querendo pertencer, e tentando mostrar seu valor através de coisas materiais: viagens, compras, e todo o pacote “ter é ser” que é tão comum vermos por aí.

Ah, Theo…o bebê idealizado estava no pacote “ter é ser”. Ele ia estudar em um colégio caro e famoso. Ia estudar fora e fazer intercâmbio. Ia, ia ia…quantos planos eu fiz pra você sem que você pudesse concordar com eles. Sem que pudesse dar sua opinião. Sem que eu soubesse, de verdade, quem você era. Quem seria. A mudança que efetuaria nas nossas vidas e nas nossas prioridades.

O que é uma bolsa de grife perto do seu filho, que recebeu um prognóstico de talvez nunca falar, dizer “mamãe”? O que é um celular do último modelo se comparado a tantas coisas que achamos que nunca aconteceriam (como, por exemplo, o desfralde que foi tão fácil)?

Sentir o preconceito dos outros também me fez encarar meus próprios. E enfrentá-los. E tentar extingui-los todos os dias. E lutar para que todos tenham essa mesma percepção.

Theo veio me transformar em uma pessoa melhor. Alguém que ainda tem muito, MUITO o que evoluir, mas que já se sente totalmente diferente da pessoa que era há 5 anos.

Parabéns para o meu Theo. Ele é muito melhor do que eu imaginava. Muito superior a todo e qualquer plano materialista que eu tenha feito para ele antes de conhecê-lo de verdade. Ele é totalmente responsável por quem eu sou hoje e por tudo o que ainda vou mudar, evoluir e realizar.

Hoje em dia, sei que a lagarta que virou pupa fui eu, e não ele. E cá estou, dentro do casulo, sofrendo uma transformação total. O processo é constante.

O termo “crianças especiais” só faz sentido nesse contexto: são especiais porque mudam as pessoas ao redor. Mexem na essência, no ego, invertem as prioridades, viram do avesso.

Basta a gente estar aberto a isso. Basta a gente deixar. Basta a gente querer.  

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Imagem: Shutterstock

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