Às vezes, tenho saudades de ser criança. As coisas eram muito simples: ou era preto ou era branco. O desenho animado tinha o vilão e o mocinho, e sempre deixavam bem claro quem era quem. Papai e mamãe estavam ali pra orientar, prover, proteger e até tomar, por nós, decisões difíceis.
Acontece que crescemos. E as coisas tornam-se mais matriciais que lineares. Acabamos percebendo que não existe ninguém 100% vilão ou 100% mocinho. Que até pessoas tidas como ruins fazem coisas boas de vez em quando, e muitos mocinhos cometem erros daqueles que nunca esperávamos. Mas que, na maioria das vezes, apontamos o dedão para o outro como se ele fosse completamente mau, enquanto nós somos “um poço de santidade”.
Crescemos e passamos a tomar nossas próprias decisões difíceis. E a colher os frutos das decisões tomadas. A lidar com as consequências. Este processo costuma ser uma dolorosa, porém importante parte do amadurecimento.
Li uma vez que viver é equilibrar-se entre escolhas e consequências. O que não ensinam pra gente é que, muitas vezes, quem nos cerca também colhe as consequências do que plantamos. Afinal, ninguém é uma ilha. Todo mundo tem um círculo de apoio maior ou menor.
Viver é colher, também, o que outros plantaram.
Crescer também é perceber que, muitas vezes, viramos “pais dos nossos pais”. E esta é uma fase muito delicada, porque também é dolorosa para eles. Não é mole ceder e aprender do próprio filho, às vezes, até ser aconselhado por ele. Mas, mesmo assim, eles ainda estarão sempre ali para nos acolher na hora do aperto. Afinal, com 30 ou 80 anos de idade, pai e mãe ainda são pai e mãe.
Crescer é aprender a lidar com as frustrações. É entender que o mundo não é cor-de-rosa como imaginávamos, que os outros não vão atender às nossas expectativas o tempo todo, e que as coisas não serão necessariamente como sonhamos. Isso tudo sem bater o pé, sem fazer birra, sem agir como a criança que outrora fomos.
Crescer também é entender que a vida continua. Que podemos ter sofrido um golpe imenso de qualquer natureza, mas as pessoas continuam indo trabalhar, ou estudar, a bolsa de valores continua operando, a grama ainda cresce lá fora. Cabe a nós levantar – com ajuda ou sem -, lamber as próprias feridas, sarar e seguir em frente.
Toda escolha tem consequência. Toda dor traz sofrimento, mas também aprendizado.
E pra que seguir em frente? Por nós mesmos. E também por aqueles que nos cercam. Como eu disse lá atrás, ninguém é uma ilha. E as decisões que tomamos afetam, também, a quem nos rodeia.
Disse isso tudo até aqui para contar que 2016 foi um ano pessoalmente MUITO difícil. Mas sou uma sobrevivente. Continuo me levantando, lambendo as feridas, remendando tudo como dá e seguindo em frente. Faço isso por mim, pelo meu filho que depende de mim, por aqueles que me amam e me apoiaram em cada momento difícil.
Faço porque não sei o que o futuro me reserva e nem quanto tempo ainda me resta. Somos humanos, finitos, e tenho a sorte de habitar este planeta na mesma época que gente tão especial! Preciso aproveitar pessoas, lugares, experiências, tudo isso enquanto ainda posso.
Que este ciclo se feche para todos nós com a sensação de que fizemos o que pudemos de acordo com cada situação. Tomamos nossas decisões e vamos lidar com as consequências da melhor forma possível. E que o ano de 2017 nos encontre com os braços abertos, prontos pra cair, levantar, perdoar (inclusive a si mesmo), seguir e VIVER quantas vezes forem necessárias!
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