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Comunicação Aumentativa e Alternativa, recursos e implementação

Participei de um curso de Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) no último fim de semana, em São Paulo, organizado pela Renata Bonotto, da Autismo & Vida e Abraça, com a Amy Starble. Amy é fonoaudióloga certificada pelo Conselho de Educação do estado de Vermont e possui mestrado em Ciências da Comunicação.

Vou passar pra vocês um resumo do que foi falado, até porque o assunto é extenso demais para ser tratado em um post de algumas linhas!

O que é CAA

A comunicação alternativa é toda e qualquer forma pela qual uma pessoa consiga se expressar sem usar a fala.

Existem vários métodos de CAA, desde libras, até PECs (comunicação por troca de figuras), passando por aparelhos e aplicativos de alta tecnologia. O método escolhido deve ser o que se adapta melhor ao usuário.

Sabemos que, no caso de nossas crianças autistas, elas entendem muito mais do que expressam (principalmente no caso das não verbais ou pouco verbais). A CAA vem justamente para equilibrar esta lacuna entre a compreensão e a expressão da linguagem.

Mitos sobre CAA

Infelizmente, muitos profissionais da fonoaudiologia no Brasil ainda reproduzem o discurso de que “o uso de comunicação alternativa vai atrasar a fala, vai deixar a criança preguiçosa”. Esta crença não tem respaldo científico, pelo contrário.

A introdução da CAA está correlacionada à melhoria da fala natural em muitos casos (Berry, 1987; Daniels, 1994; Romski & Sevcik, 1993; Konstantareas, 1984; Silverman, 1980; Cress at. al, 2003)

Uma revisão de 76 estudos de Schlosser & Wendt (2008) indicou que a maioria deles reportou um aumento na produção da fala com o uso da CAA. A revisão concluiu que a CAA não impede a produção da fala em crianças com autismo.

Ou seja: o uso de CAA em crianças com autismo é suportado por evidências!

Quanto aos pais, muitos oferecem resistência à introdução da CAA por pensar que isto significa que estão “desistindo da fala da criança”, ou que isto é um último recurso. Na verdade, o uso de CAA não exclui a necessidade de fonoterapia, sendo que os dois recursos podem e devem ser usados ao mesmo tempo. A fala do adulto que guia a criança ou do parceiro de comunicação sendo usada junto com a CAA também auxilia na compreensão e no desenvolvimento da fala.

Se a criança já apresenta algum tipo de fala em casa – aquela que as pessoas mais próximas entendem – ela pode vir a usar a CAA só quando estiver fora de casa. Em casa, o uso da fala continua a ser estimulado.

É comum que crianças com déficits severos na comunicação permaneçam anos a fio fazendo fono, mas sem ter como se comunicar ou se expressar. E é exatamente esta a origem de muitos comportamentos difíceis, como a auto e hetero agressão. A frustração por não conseguir se comunicar gera, também muita ansiedade, descontrole emocional e até depressão.

Justamente por isso, o ideal é que se inicie a CAA desde cedo. Já aos 2 anos, crianças podem se beneficiar da ferramenta!

“Ah, mas meu filho tem déficit cognitivo”. Isso não é, de forma alguma, impeditivo para o uso de CAA. A questão cognitiva não é pré requisito para o uso de CAA e, ainda, pessoas com déficits cognitivos severos SÃO capazes de aprender e de se beneficiar de CAA! (Beukelman & Mirenda, 1992; Romski & Sevcik, 2005; Kangas & Lloyd, 1988; Silverman, 1980)

E, por último, crianças que utilizam CAA mostraram melhoras no comportamento, na atenção, na independência, na autoconfiança, na participação em sala de aula, no progresso acadêmico e nas interações sociais. (Berry, 1987; Daniels, 1994;  Romski & Sevcik, 1993; Konstantareas, 1984; Silverman, 1980, Cress at. al, 2003)

Ganhos do uso de CAA para a criança autista

  1. Desenvolvimento de outras habilidade de comunicação além do solicitar/pedir

  2. Aprendem a iniciar a comunicação de forma apropriada, e isso diminui muito alguns comportamentos indesejáveis, como o “empurrar o coleguinha”.

  3. Aprendem como funciona o ato de conversar

  4. Com isso, aumentam o engajamento e a interação

Como escolher o tipo de CAA

O tipo de CAA depende das características da criança. Algumas vão se dar melhor com pranchas de papel plastificado e velcro. Outras já se dão super bem com tecnologia e podem aproveitar bastante os aplicativos.

De qualquer forma, o aparelho (ou pasta) de comunicação deve estar SEMPRE ao alcance da criança.

Importante caso você escolha um aplicativo:

  1. O ipad ou tablet usado para o aplicativo de CAA deve ser exclusivo para isto.

  2. É sempre bom ter um sisteminha backup em papel. Tecnologia dá pau, bateria acaba, e por aí vai.

Conteúdo do CAA

  1. Vocabulário essencial: as palavras usadas com mais frequência. Normalmente, o pronome pessoal, alguns verbos mais utilizados e substantivos que a criança usa muito. No caso do app, estas figuras devem estar na tela inicial. Se você usar uma prancha de papel, é o mesmo raciocínio.

  2. Vocabulário estendido: pessoas, lugares, coisas, cores, formas, dias, meses, substantivos.

  3. Frases sociais: “bom dia”, por exemplo

  4. Letras individuais: não temos como colocar figuras de tudo. Assim, é importante que a criança tenha como escrever se algo faltar (daí a importância da alfabetização).

Opções

  1. Em papel: PECs ou PODD.

PODD (imagem: https://bit.ly/2HpXaCX)


A pastinha de PECS do Theo


  1. Aplicativos com versões em português

  2. SONO FLEX

  3. ABOARD

  4. LET ME TALK

  5. COMUNICO

  6. INCLUSIVE TODOS

  7. Sites bacanas:

Dicas para implementar

Procure uma fono que entenda do assunto para ajudar a analisar o nível de comunicação da criança, a formar o vocabulário necessário para o CAA e a orientar o processo!

Uma das coisas mais importantes a ser lembrada é que todo mundo deve estar envolvido no processo: família, terapeutas e escola. Só assim a implementação vai ser bem sucedida!

No caso da escola, fazer com que os coleguinhas se sintam confortáveis para se comunicar com a criança usando o CAA é essencial para a inclusão.

Para terminar…

Só um agradecimento à querida Renata Bonotto, que vem insistindo nessa tecla (sem trocadilhos) há muito tempo!

Comunicação alternativa é DIGNIDADE para a pessoa com deficiência. Nós, como pais, devemos ser os primeiros a garantir a nossos filhos o direito de se comunicarem!

P.S: você pode ler mais sobre o uso que o Theo faz do PECs AQUI. Tem também este vídeo AQUI.

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