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Essa montanha que você carrega nas costas, você só deveria escalar


“Eu adoraria ser como você, que aceitou seu filho do jeito que é. Eu ainda choro muito, eu ainda penso em como seria se ele não tivesse uma deficiência”.

Recebo, sempre, muitas mensagens assim. E eu sempre respondo da seguinte forma: eu não fui sempre assim. Eu não “aceitei” imediatamente. Eu sofri muito com o diagnóstico, chorei rios. Eu acordava de manhã, abria os olhos, percebia que tudo aquilo não tinha sido um pesadelo, tinha acontecido de fato. E as lágrimas rolavam até o travesseiro.

Em algum ponto, eu achei que tinha aceitado meu filho. Mas me enganei. Eu aceitei outra idealização da minha cabeça: de uma criança ainda autista, mas leve, falante. Quando, finamente, percebi que não seria assim, sofri de novo. Mas já sofri menos. E foi quando, finalmente, percebi que precisava jogar minhas idealizações no lixo e aceitar quem meu filho REALMENTE era.

Hoje, estou em paz. É claro que, eventualmente, penso em como seria ter tido um filho ou filha típicos. Como, por exemplo, quando vejo meu marido interagindo com seus sobrinhos. Mas esse pensamento vem, vai embora, e continuo em paz.

O processo de aceitação é longo, e mesmo aceitando, não quer dizer que, vez ou outra, um pensamento desses não vai vir. Somos humanas.

Criei bastante consciência desses processos e quase digo “oi, pensamento, estou vendo você aí. Também estou te vendo ir embora”.

O problema não é o pensamento vir, cruzar a ponte e ir embora. O problema é o pensamento montar uma cabana bem no meio da ponte e fazer uma morada. Ali, ele vira amargura.

Não se culpe por ser humana. Li uma frase, uma vez, que dizia algo como “estas montanhas que você carrega nas costas, você só deveria escalar”. É isso.

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