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O que aprendi no Pupanique

Recebi, hoje, essa mensagem muito especial sobre a experiência de um casal de estudantes, que não possuem ninguém autista na família, no Pupanique. Reproduzo, aqui, com a autorização dela, porque quero que vocês se emocionem como eu! <3  

“Andrea, queria te mandar uma mensagem sobre o que eu senti no Pupanique, sendo alguém que nunca tinha tido contato com o autismo. Queria falar sobre tudo que passou na minha cabeça, dividir isso com você.

Você já deve ter recebido diversas mensagens sobre o Pupanique. Pessoas contando suas experiências, falando de como os seus filhos se divertiram, expondo seus sentimentos e te agradecendo por você ter proporcionado isso. Esse é, então, apenas mais um agradecimento, apenas mais uma história sobre o mesmo dia.

Cheguei lá acompanhada pelo meu namorado. Nós estávamos com um friozinho na barriga que quase nos fez desistir, não sabíamos o que nos esperava ali, não sabíamos nem se deveríamos de fato estar ali. Porque o que todas aquelas pessoas tinham em comum, nós nunca tínhamos passado perto, e estávamos nos aproximando disso, não sabíamos o que encontraríamos, não sabíamos como lidar e muito menos o que dizer. Ficamos ao longe apenas percebendo, aprendendo pela observação.

Nós nunca tínhamos estado com alguma pessoa autista. Eu pensei e nem sequer conseguia chegar a uma definição do que era o autismo, nem mesmo juntando tudo que já li a respeito, todas as pesquisas, seu blog e outros que leio, não conseguia naquele momento bolar uma resposta. Fomos em frente. Não porque nos sentimos preparados, mas porque era a hora.

Te cumprimentamos, oferecemos ajuda, e começamos a conversar com as pessoas que estavam ao redor (tanto mães quando crianças). “De onde vocês são?” “Vocês têm algum parente autista?” “O que trouxe vocês até aqui?”. Respondíamos as duas primeiras perguntas com facilidade, mas a terceira…

Crianças diferentes

Bom, em 2012, uma grande amiga minha ganhou um irmãozinho com Síndrome de Down, e eu, que sempre fui apaixonada por criança, me tornei mais próxima ainda da família e passei a ver de perto todas as dificuldades e todo o encanto que há por traz de ter uma criança com necessidades especiais. O tempo foi passando, ele foi crescendo e se mostrando cada vez mais especial, e foi se desenvolvendo em seu tempo. Quando me dei conta, estava no meio do terceiro colegial e tinha acabado de mudar minha escolha profissional de arquitetura para pedagogia, com um interesse enorme pela educação especial.

Comecei a pesquisar muito sobre diversos transtornos e o autismo me chamou muita atenção. Fiquei apavorada de como o mundo não está preparado para isso, como falta preparo de profissionais, como a grande maioria das pessoas não sabe lidar. E eu não sabia lidar também e comecei a querer saber: fui atrás de alguns livros, filmes e, aí, meu namorado me mandou o link do seu blog.

Eu achei, num primeiro momento, que estava descobrindo um mundo novo, caindo no pensamento da sociedade de que “os autistas vivem em outro mundo”. Via os textos e vídeos sobre o Theo e aquele pensamento de “como deve ser difícil” mudou para “como será que posso ajudar”.

Quando cheguei ao Pupanique, era isso que eu queria: aprender como ajudar. Mas acabei aprendendo muito mais. Muito, muito mais. Sai de lá transbordando. As crianças, lindas! A energia estava fantástica, me sentia numa bolha de energia positiva no meio desse caos que São Paulo está.

Senti como é importante a inclusão, como um tem o que aprender com o outro. Não tinha palavras para dizer o que sentia, me sentia mais próxima da minha profissão, senti que eu posso aprender a ajudar, senti clareza que é com isso que quero trabalhar pro resto da minha vida: com crianças.

Aprendi, nesse dia, que os autistas não vivem no mundo deles. O mundo é um só, estamos todos aqui. Eles compreendem o mundo de outra forma, apenas. Assim como um médico e um pedagogo olham a mesma criança com olhares diferentes.

Aprendi muito mesmo! Até mesmo a risada do seu filho me ensinou. E que risada gostosa que ele tem! Brincávamos na gangorra e, pelo menos três vezes, ele disse “more” (mais). Isso preenche, emociona, pois sei, pelos seus textos, o quão gratificante é vê-lo falar “more”.

E, quando saí da gangorra, fui até ele perguntar se ele tinha gostado da brincadeira. E ele riu, riu muito. Meu namorado pegou esse momento, de nós dois rindo.


Verônica e Theo (arquivo pessoal)

Verônica e Theo (arquivo pessoal)


O fato da foto estar tremida a torna mais gostosa ainda.

Me desculpa, Andrea, por ter falado muito sobre mim, mas eu queria passar o quanto esse dia foi realmente importante para mim, e queria que você entendesse o que uma menina de 18 anos e seu namorado, que nunca tinham visto um autista, estavam fazendo ali.

E, sabe, dentre todas as coisas que eu aprendi nesse dia, a mais maravilhosa foi que essas crianças têm MUITO a nos ensinar.

Sou realmente muito grata por essa oportunidade e admiro muito a sua coragem de lutar por um mundo com mais compreensão, sem preconceitos e uma sociedade mais inclusiva.

Eu espero que, como futura pedagoga, eu consiga colaborar com essa luta.

Um grande abraço em você e um no Theo!

Verônica Pires”


No balanço! (arquivo pessoal)

No balanço! (arquivo pessoal)


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