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Autismo: perguntas e respostas


O filho da sua amiga acabou de ser diagnosticado com autismo. Você já tinha notado que ele era meio diferente das outras crianças e até do seu próprio filho, mas ficou com medo de comentar. Agora, você já sabe o porquê dessa diferença.

Muita gente passa por essa situação e fica com a cabeça cheia de dúvidas. Então, pensando nisso, fiz um guia rápido pra explicar os principais pontos que podem te afligir. Vamos lá?

1) O que devo dizer à minha amiga quando ela me contar?

Nessas horas, tudo o que a gente quer ouvir é “estamos aqui para o que você precisar” e “continuamos amando o seu filho da mesma forma”. Mas, mais importante do que dizer, é demonstrar! Um pouco de positividade, também, sempre cai bem. Diga à sua amiga que tudo vai ficar bem, que a ciência vem progredindo e que há várias opções de tratamentos disponíveis (mesmo que você ainda não saiba quais são).

2) Afinal, o que é o autismo?

Autismo é um transtorno (não doença) que afeta a forma com que a criança se relaciona com o mundo. É causado por fatores genéticos e ambientais, principalmente os ligados ao ambiente intrauterino. O cérebro da criança é diferente, é plugado de forma diferente. Da mesma forma que não existem duas crianças iguais, o autismo afeta cada uma de uma forma. Mas todas possuem, em maior ou menor grau:

1. Dificuldades para se comunicar: podem não falar nada ou usar repetição, frases sem contexto ou fala estereotipada (criança que fala como se fosse uma pessoa mais velha).

2. Dificuldades para interagir: o autista, quando bebê, tem dificuldades com o chamado “compartilhamento”. Ele não olha para onde a mãe aponta e tem dificuldades em observar os comportamentos dos pais, forma pela qual os bebês aprendem tantas coisas normalmente. Um dos efeitos disso é que eles não entendem as regras sociais. Então, eles têm dificuldades para se aproximar de outras pessoas e se relacionar com elas.

3. Comportamento atípico ou repetitivo: é normal crianças autistas não brincarem com o brinquedo de forma típica. Costumam se interessar mais pelas peças do que pelo todo, pela rodinha mais do que pelo carrinho. Podem enfileirar os brinquedos. Também se apegam a objetos estranhos, como vidros de desodorante e garrafas pet. E muitas têm dificuldades de encerrar uma atividade e passar para outra, o que gera o famoso “comportamento repetitivo” (o do meu filho é ficar jogando objetos no chão e observando como eles caem e fazem barulho).

4. Dificuldades sensoriais e motoras: a maioria das crianças autistas possui dificuldades sensoriais e motoras. A forma com que os estímulos chegam ao cérebro pelos sentidos (tato, audição, visão, etc) é alterada. Então, muitas possuem sensibilidade a sons (mesmo aqueles que você considera baixos), cheiros, luzes, e até ao toque. É complicado de uma forma mas, por outro lado, isso tudo faz com que eles tenham uma visão única do mundo. Outra coisa bem comum é a criança ter problemas de coordenação motora fina ou grossa, baixo tônus muscular e pouca consciência corporal, o que gera aquele andar diferente que a gente costuma observar.

3) Cheguei na casa da minha amiga. Como devo tratar o filho dela?

Simples: como uma criança. Cumprimente como faria normalmente. Se for ficar mais confortável, pergunte antes à mãe dele/a se ele se incomoda com o toque. Se não for o caso dele, você pode até dar um abraço. E não ligue se parecer que ele te ignorou, nem olhou pra você, não está te ouvindo nem dando a menor bola. Pode acreditar: ele sabe que você está ali. Sabe de tudo o que acontece ao redor. Continue falando com ele mesmo que ele não responda ou não olhe.

4) Como devo explicar ao meu filho sobre o amiguinho autista?

Explique que ele é diferente. Que existem pessoas de todas as cores, pessoas que andam e pessoas que usam cadeiras para andar. Pessoas que falam e pessoas que não falam. Pessoas que gostam e que não gostam de brincar de carrinho. Se o filho da sua amiga for não verbal, explique pro seu filho que ele ainda está aprendendo a falar e que, por isso, faz barulhinhos quando quer se expressar. E que, da mesma forma que o seu filho dá risada quando está muito feliz, o coleguinha bate as mãos e dá pulinhos (exemplo).

5) Meu filho está chateado porque o amiguinho não quer brincar com ele. O que devo fazer?

Crianças autistas têm dificuldades de interagir por não entenderem bem o mundo e as pessoas. Por isso, muitas vezes, se isolam. Entendo que esse tipo de situação pode ser frustrante para a outra criança. Então, uma saída é perguntar à sua amiga que tipo de atividade o filho dela gosta de fazer. Todo autista tem suas preferências. Dessa forma, você pode explicar para o seu filho que o coleguinha gosta de brincar com a água, por exemplo. E os dois podem ficar juntos mexendo com a água na pia. Explique pra ele que o coleguinha quer muito brincar com ele, mas não sabe como. Então, ele precisa ter paciência e ajudá-lo. Crianças costumam ter bom coração e não vão se negar a ajudar o amiguinho!

6) Ser autista significa ter uma super inteligência como Einstein?

Alguns autistas possuem a inteligência acima da média, mas isso não é verdade para todos. Alguns médicos acreditam, até, que uma parcela possui déficit cognitivo. Eu, pessoalmente, acredito que nenhum teste de QI atual consegue medir a inteligência de uma criança que não fala, tem dificuldades em seguir comandos e não se relaciona bem com um estranho. É outro mistério a ser desvendado.

7) O que dar de presente para uma criança autista?

Tudo o que estimula os sentidos costuma ser bem vindo. Bolas, massinha (sempre atóxica e, de preferência, sem perfume), geleca, briquedos com água, brinquedos de causa e efeito (como o boneco que pula da caixa ou aquele em que se coloca uma bolinha em um buraco e sai algo em outro). Mas não se espante se ele ou ela gostar mais do papel do embrulho do que do presente! Isso faz parte do olhar único e diferenciado do autista, que acha graça até nas coisas mais incomuns! 😀

8) Comecei a pesquisar autismo na internet e achei vários links interessantes. Devo encaminhá-los à minha amiga?

Acredite, sua amiga já virou noites fazendo a mesma coisa. Dificilmente você vai achar algo que seja novidade pra ela. Ela não precisa de mais informação nesse momento. Precisa de amor e suporte emocional.

9) Devo ter cuidado com algum tipo de assunto quando formos conversar?

O início logo após o diagnóstico é muito sensível. A gente passa por um luto, quase como se um filho tivesse morrido. Então, por mais que você ame contar sobre os progressos do seu filho e sobre como ele já conta até 100 aos 2 anos de idade, tente não contar esse tipo de novidade neste momento.

10) Por que criança autista, muitas vezes, parece mal educada? Por que sobem em tudo, mexem em tudo, mesmo a mãe dizendo que não pode?

Para começar, a criança autista que não fala acaba usando o mesmo recurso do bebê para comunicar qualquer incômodo: ela chora bastante. E isso acaba sendo confundido com birra por quem não conhece. Acredite: não é falta de limites! Nenhuma criança leva tantos “nãos” na vida quanto uma criança autista! Outro problema é que hiperatividade e a dificuldade de aprendizado, muitas vezes, vêm junto com o autismo. Então, é bem comum a criança agir como se tivesse “formigas no popô”. Quanto ao aprendizado, se o seu filho para de limpar a boca na roupa na décima vez que você o corrige, isso pode demorar 50 vezes mais pra um autista. Só com muita paciência e repetição!

11) O filho dela vai falar? Vai ser independente? Como será o futuro desta criança?

Os progressos de uma criança autista dependem dos estímulos que recebe. Mas depende, também, de algo muito intangível: a neurologia de cada um. Algumas crianças fazem milhares de intervenções e progridem pouco ou devagar. Outras fazem poucas e quase perdem as características do autismo. É outro mistério. Mas o importante é ajudar a sua amiga a se manter positiva e ter esperanças no futuro. E sempre, SEMPRE perguntar se tem algo que você poderia fazer para ajudar, mesmo que a resposta seja não.  

(Os conteúdos produzidos por Andrea Werner e disponibilizados neste site são protegidos por copyright e não podem ser reproduzidos, total ou parcialmente, sem autorização expressa da autora, mesmo citando a fonte)

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